Por
indicação do amigo Manuel Faria, intelectual discreto à sombra de
competente médico que é, assisti ao filme “Negação”. Trata da ação de
difamação movida pelo inglês David John Cawdell Irving contra a
americana Deborah Lipstadt e a editora Penguin Books, na Inglaterra.
Irving
afirmou em suas obras que o holocausto (genocídio de judeus na II
Guerra) não existiu. Lipstadt, pela Penquin, publicou livro contestando o
inglês.
O filme
enfatiza a estratégia dos advogados de Lipstadt, sob pressão desta, que
insistia no seu depoimento e no de sobreviventes de Auschwitz.
Os
advogados conseguiram convencer Deborah de que, mesmo que aos outros
parecesse covardia ela não depor, era fundamental para a defesa que não o
fizesse. O processo não era sobre ela ou sobre os sobreviventes. Estes
seriam expostos à humilhação por Irving. O alvo devia ser a motivação de
David para alterar a verdade. Estava em jogo a credibilidade sobre a um
fato histórico relevante.
Um
dos advogados diz-lhe uma frase fundamental: calar-se, inclusive para a
imprensa, seria um ato de abnegação. A sentença, favorável aos réus,
fez-lhe compreender a importância do que foi, para ela, um grande
sacrifício.
Lembro esse episódio porque é exatamente o que falta no presente momento. Abnegação. E humildade por parte das autoridades.
Vem-me,
então, pelo mesmo motivo, a observação que me fez outro amigo, médico,
sacerdote e intelectual com dupla imortalidade, à vista da que lhe foi
conferida pela Academia Maranhense de Letras: João Mohana.
Ao
elogiar para ele a humildade de Rejean Racine, padre canadense e grande
amigo nosso, ele disse: Rejean é naturalmente humilde. Boníssimo.
Difícil é para os vaidosos a humildade!
É
muito fácil a prepotência e o autoritarismo para os vaidosos no
exercício do poder. Difícil é serem abnegados e conduzir-se com
humildade para desempenhar cargos públicos e efetivamente atender aos
interesses da coletividade. Não são poucos os que, em cargos públicos,
internalizaram a concepção de que suas funções são um privilégio para
lhes facilitar a própria vida, de parentes, amigos e comparsas de
violação de suas funções. Desde o mais simples servidor, que lhe lança
um olhar de superioridade – quando se dá ao trabalho de o olhar – e o
atende como se estivesse fazendo um favor, e não cumprindo – e mal – sua
obrigação, até as mais altas autoridades.
O
STF tem sido o suprassumo dessa excrescência e se superado em
desrespeito, abuso e atentado contra a Democracia e a Nação. Ministros
decidiram blindar-se, como se a Democracia lhes legitimasse abusar até
do rigor da lei contra seus críticos e usurpar, sem qualquer pudor, a
competência e as atribuições dos demais Poderes. Estão acima de todos,
da Lei e da Constituição!
Faltam-lhes decência, ética, compromisso com a função pública. Abnegação, nem pensar. Humildade, muito menos.
E
é exatamente isso que o momento exige: abnegação e humildade. Cargos
não são impostos. Quem os assume deveria honrar a função pública,
controlar sua vaidade, seu orgulho, autoritarismo, para, com humildade,
reunir-se para ouvir até seus adversários, discutir sem ofensas as
medidas a serem tomadas, avaliando-as e revendo-as, permanentemente.
Mas isso exige coragem! Muita. Não é para qualquer um!
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