Durante os 100 minutos do filme lembrei do meu pai, o "guarda" Rubim. Getulista apaixonado, mantinha em cima da geladeira uma pequena estatueta de gesso de Getúlio tomando chimarrão e, na parede, um quadro com a foto do presidente sentado em uma rede na sua fazenda em São Borja. Ouvíamos sempre as histórias dos dias que antecederam a sua morte. O pai relatava-as como se estivesse presente no momento e local do acontecido.
Nascido em Uruguaiana (RS), conhecia Getúlio desde São Borja. As duas cidades fazem fronteira com a Argentina, distantes cerca de 150 km. Quando foi nomeado Guarda Aduaneiro (agente de repressão ao contrabando), em novembro de 1941 foi até a Fazenda do Itú, em São Borja, pedir a Getúlio que assinasse pessoalmente a sua nomeação. Esse documento enfeitou a parede da sala de casa durante muitos anos.
Falava de Getúlio, Bejo e Alzirinha Vargas com uma intimidade fantástica, vivia ali. Do "nego" Gregório, o "Anjo negro", guardava uma mágua profunda, a mesma que dividia com o "corvo" Carlos Lacerda.
Getúlio na Fazenda do Itú, em São Borja (RS) |
As histórias do "pai do povo" eram comun e corrientes em casa. A começar pela Carta Testamento de Getúlio que servia de suporte entre uma história e outra quando recitadas pelo pai com empolgação na hora do almoço.
No filme duas coisas me chamaram a atenção. Uma me impactou: foi o último diálogo entre Getúlio e seu irmão, Bejo Vargas, na noite do suicídio. No filme as frases eram as mesmas que meu pai falava.
Bejo entra no quarto do presidente e avisa que o ministro da Guerra, Zenóbio da Costa, havia dito aos seus comandados que se Ele assinasse o licenciamento não voltaria mais à presidência.
- Quer dizer, então, que estou deposto Bejo? Perguntou o presidente.
- É o que parece Getúlio. Teria respondido o irmão.
Esse diálogo ouvi muitas vezes da boca de meu pai. Relatava como se estivesse no quarto de Getúlio na hora do acontecido. A mãe diz que ele sabia de tudo através dos noticiários de rádio que escutava diariamente e da revista O Cruzeiro que recebia com atraso em Quaraí. Além disso convivia e recebia muita informação da vida pessoal de Getúlio através de seus colegas da guarda, na maioria ex-agentes da guarda pessoal de Vargas.
A outra coisa que me chamou a atenção é que o filme mostra Getúlio colocando a Carta Testamento em um envelope amarelo no criado-mudo ao lado do seu leito de morte.
O pai sempre afirmou que Getúlio teria dado a carta para João Goulart, ex-ministro do Trabalho, com a recomendação de que só a abrisse quando chegasse em Porto Alegre. A Carta Testamento teria sido entregue com o seguinte vaticínio de Getúlio, segundo o Pai: -
- O perseguido era eu, agora serás tu, Jango!
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Belo resgate histórico, Canga!
ResponderExcluirA estatueta de Getúlio tomando mate é impressionante.
'Abrazón'.
Billy Culleton