sábado, 3 de maio de 2014

Framentos de uma viagem (e Kafka)

Por Emanuel Medeiros Vieira

Fiz uma bela viagem pela Europa durante 20 dias.
Mas não pretendo escrever um relato turístico. Mas captar alguns aspectos da peregrinação.
É claro: a gente sempre cresce em qualquer viagem.
Vemos que o mundo não se reduz à nossa “paróquia”, ao quintal da nossa casa, e a viagem aumenta e amplia a nossa visão do universo.
Não. Não falarei em Lisboa, Paris, Londres, onde também estive.
Mas queria meditar sobre o contraste entre perversidade e beleza.

Superficialmente, falo de Franz Kafka (1883-1924), autor seminal, premonitório, “possuído”, que vivendo apenas 41 anos pareceu profetizar tudo, e é autor fundamental
para entender a modernidade.
Ela captou a desumanidade de um mundo, a degradação do ser humano, a perversidade da burocracia e da justiça, e foi muito além disso.
Falou-nos sobre a solidão do homem.
Na belíssima cidade de Praga, longe do roteiro turístico que quase todo mundo realiza, quis visitar o antigo cemitério judeu da cidade, onde está o túmulo do autor.
Fui à sepultura, depois de visitar um campo de concentração, perto de Berlim (Sachsenhausen).
Como verbalizar? Dizer que foi impactante? É pouco. Que parece inacreditável? Falar da brutalidade mais extrema que o homem pode cometer contra o próprio homem?
Eu sei. É pouco, muito pouco.
E como imaginar que uma cultura que gerou (na Áustria e na Alemanha) Mozart, Beethoven, Haydn, Hegel, Kant, Thomas Mann, Goethe, Schiller e tantos outros grandes humanistas pode ter gerado a monstruosidade do nazismo?
Como?
E saindo do campo – pensando em todos os pés que ali pisaram, em tanto sofrimento de tantos seres humanos – escutei o canto de um pássaro.
Dias depois, em Viena, assisti a um concerto em que era “tocado” Mozart, e havia um violino belíssimo.
Beleza e crueldade.
(Revisei também a linda cidade Bruges, na Bélgica, e Dresden, cidade barroca alemã, completamente destruída na Segunda Guerra Mundial.)
O que me resta dizer? Quem sabe, cair num necessário lugar-comum: é preciso lutar diariamente para aumentar a taxa de dignidade humana, num mundo carregado de violência, brutalidade e de individualismo. De profunda desilusão e de medo. E que cada um deve fazer a sua arte? É pouco? Sim.

Mas é o que nos cabe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário