Por Emanuel Medeiros Vieira
Fiz uma bela viagem pela Europa durante 20 dias.
Mas não pretendo escrever um relato turístico. Mas captar
alguns aspectos da peregrinação.
É claro: a gente sempre cresce em qualquer viagem.
Vemos que o mundo não se reduz à nossa “paróquia”, ao
quintal da nossa casa, e a viagem aumenta e amplia a nossa visão do universo.
Não. Não falarei em Lisboa, Paris, Londres, onde também
estive.
Mas queria meditar sobre o contraste entre perversidade e
beleza.
Superficialmente, falo de Franz Kafka (1883-1924), autor
seminal, premonitório, “possuído”, que vivendo apenas 41 anos pareceu
profetizar tudo, e é autor fundamental
para entender a modernidade.
Ela captou a desumanidade de um mundo, a degradação do ser humano,
a perversidade da burocracia e da justiça, e foi muito além disso.
Falou-nos sobre a solidão do homem.
Na belíssima cidade de Praga, longe do roteiro turístico que
quase todo mundo realiza, quis visitar o antigo cemitério judeu da cidade, onde
está o túmulo do autor.
Fui à sepultura, depois de visitar um campo de concentração,
perto de Berlim (Sachsenhausen).
Como verbalizar? Dizer que foi impactante? É pouco. Que
parece inacreditável? Falar da brutalidade mais extrema que o homem pode
cometer contra o próprio homem?
Eu sei. É pouco, muito pouco.
E como imaginar que
uma cultura que gerou (na Áustria e na Alemanha) Mozart, Beethoven, Haydn,
Hegel, Kant, Thomas Mann, Goethe, Schiller e tantos outros grandes humanistas
pode ter gerado a monstruosidade do nazismo?
Como?
E saindo do campo – pensando em todos os pés que ali
pisaram, em tanto sofrimento de tantos seres humanos – escutei o canto de um
pássaro.
Dias depois, em Viena,
assisti a um concerto em que era “tocado” Mozart, e havia um violino belíssimo.
Beleza e crueldade.
(Revisei também a linda cidade Bruges, na Bélgica, e
Dresden, cidade barroca alemã, completamente destruída na Segunda Guerra
Mundial.)
O que me resta dizer? Quem sabe, cair num necessário
lugar-comum: é preciso lutar diariamente para aumentar a taxa de dignidade
humana, num mundo carregado de violência, brutalidade e de individualismo. De
profunda desilusão e de medo. E que cada um deve fazer a sua arte? É pouco?
Sim.
Mas é o que nos cabe.
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