terça-feira, 11 de agosto de 2015

Do começo... Ao fim.

   Por Marcos Bayer

   No começo, antes da fala e da escrita, eram apenas gritos, sussurros ou gemidos.

   Atentos, surpresos, amedrontados ou confiantes, agíamos pela curiosidade, por tentativas, instintos e alguma racionalidade. Em grupos e pequenas comunidades sobrevivemos aos animais ferozes, às doenças, aos medos, às dificuldades de toda ordem. A vida familiar e comunitária perpetuou a espécie humana. Como fez com diferentes animais...

   Na medida em que ocorria a expansão do cérebro, provavelmente pelo cozimento das carnes e processamento da alimentação, modificavam-se os corpos, as arcadas dentárias e o andar.

   A curiosidade, a tentativa e o prazer foram os condutores da evolução.

   Flávio Gikovate diz que o prazer é a passagem de um estado pior para outro melhor. Aprendeu isto com seus pacientes.

   Matar a fome, saciar a sede, repousar e dormir, acariciar e copular foram experiências que contribuíram para a erotização da vida. O prazer. Eros e Tanatos.

   Vida e morte.

   Aprendemos que havia dias amenos e agradáveis e outros frios e úmidos.

   Descobrimos que algumas safras produziam belas colheitas, outras nem tanto...

   Matávamos e morríamos nas lutas contra animais e ou nossos semelhantes de outras tribos.

   Criamos entidades metafísicas ou psíquicas para nos proteger dos horrores, com também para compartilhar dos favores da Terra.

   Atribuímos ao sol, aos ventos, às águas e a determinados animais funções extra-humanas. Divinas...

   A divindade era a explicação para o desconhecido...

   Assim, pela curiosidade, pela tentativa e pelo prazer fomos construindo o caminho... O processo civilizatório.

   O mundo externo é tão extenso e enigmático quanto o mundo interno, criamos a concepção do Universo. Um só verso, infinito, inatingível, indefinido.

   Como não há limites para a imaginação, a criatividade humana, especialmente pelo caminho das artes – o canto, a música, a pintura, a escultura, o teatro, a dança, a literatura e o cinema – ajudaram a construir o que a ciência demoraria um pouco mais para constatar.

   O positivismo foi absurdo ao querer explicar e validar o mundo pela ciência, pela lógica comprovada, pela racionalidade. No seio dele, nasceu em 1857, com Allan Kardec, o Espiritismo. Uma tentativa de explicar o espírito pela ciência.

   O espírito – pneuma – é apenas o sopro da Criação. Algo inexplicável porque intangível.
Mais sábio foi Einstein com sua Teoria da Relatividade ao definir que a equação: E = m.c2 – poderia explicar nosso mundo.

   A energia é a massa de um corpo lançado no espaço na velocidade da luz ao quadrado. A velocidade da luz é a única constante no Universo. Toda massa ao atingir tal velocidade, desintegra-se e vira pura energia.

   Assim como toda energia pode virar massa. A semente (fonte de energia ou energia concentrada) introduzida na terra, com a ação da luz solar e da água, transforma-se em árvore, algumas com frutas, ou em legumes ou cereais, portanto em massa. Fiat Lux. Fiat Panis.

   Foi assim com o trigo que ralado e misturado ao sal e a água, fez-se pão.

   A ciência (racionalidade) bebeu na fonte da arte (imaginação) para revelar-se.

   Assim, movidos pela curiosidade, fazendo da tentativa um método e buscando o prazer, sempre, caminhamos sobre a Terra.
  
   Fernando Pessoa, na Passagem das Horas, mostra como somos...

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,

Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.”

E segue:
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.”

E mais:
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.”

   É muito provável que assim como há uma transferência genética nas sucessões familiares – a morfologia – possa haver também uma transferência emocional ou psíquica nas descendências.

   Somos partes físico-biológicas e psíquico-emocionais de nossos ancestrais.

   Tudo foi átomo que virou célula que virou tecido que virou corpo que virou movimento. E nadou, rastejou, voou e ou andou...

   Carl Sagan diz que com a formação do primeiro olho num ser vivo, o Universo se viu pela primeira vez...

   Os mega ou giga bytes contidos nos “chips” da cibernética contemporânea são impulsos energéticos que não são matéria, nem espírito... Mas, outro elemento que não sabemos definir, ainda.

   Não por acaso está escrito: Tu és pó e ao pó voltarás...

   Somos energia com uma determinada forma e na decomposição do corpo, seremos também energia de outra forma.

   A tal da racionalidade humana é apenas a tentativa, interminável, de compreender o mundo e o homem.

   Boa sorte.

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