Por Marcos Bayer
Ele era capaz de imaginar um primata dentro de um capacete espacial ou representar a virilidade humana nas baquetas que tocavam um tambor.
Cuidava dos dentes alheios por profissão. Mas, seu ofício era pintar. Era muito criativo e engenhoso, traço comum aos Schauffert.
Aprendi com ele algumas coisas: fazer nós que resistissem à pressão da água salgada, destravar as alhetas dos arpões das espingardas de caça submarina, segurar a garoupa capturada pelos olhos e outras “técnicas” que ele inventava.
Falava do filmes, dos atores e atrizes do cinema de sua época, falava de pintores, de escritores, de poetas e filósofos que marcavam sua imaginação. Convivi com ele na minha adolescência. De certa forma foi um dos “pais” que encontrei para suprir a ausência física do meu. Formava com a tia Victória um casal à frente do seu tempo. Seus filhos, meus primos, também fazem parte da minha vida. Tadeu absorveu o gosto pela profissão. Olinda, o encantamento pelas artes.
Suas obras estão espalhadas pelas casas de alguns amigos, onde são mais bem cuidadas do que na maioria dos museus. Características de um povo que engatinha no entendimento da importância das artes na formação do ser humano.
Ele gostava de atirar. Tinha uma predileção por alvos, setas, miras e tudo que pudesse significar a precisão. Coisa de alemão, suponho.
Gostava de se recolher ao seu ateliê físico e imaginário para criar. Imaginação não lhe faltava. Interessava-se por quase tudo. Não era um especialista, ao contrário, um generalista universal.
Deveria ter defeitos, mas não pude conhecê-los.
Gostava de uma caipirinha de limão, às sextas-feiras e sábados, à noite, no Rancho do Buturité, então feito de bambu cujo chão era de areia. Uma época em que a violência podia ser encontrada com mais facilidade nos filmes do John Wayne exibidos na tela do Cinerama Dellatorre do que na vida cotidiana.
Era muito conversador. Tinha prazer em estar com os amigos. Gostava de sol, de mar e do luar. Gostava da vida e por isto a pintava sob várias formas: numa rede de pesca, num corpo de mulher, num pássaro ou num cata-vento. Morava em Itajaí e a cabeça podia estar em Los Angeles, Nova York ou Berlim. Às vezes, tinha uma maneira muito didática para manifestar sua indignação. Certo dia, na praia, fumando seu Hollywood foi abordado por alguns garotos interessados em filar um cigarro, hábito comum à época. Ele deu o primeiro, depois de algum tempo, deu o segundo, um terceiro e o quarto. Quando foi solicitado a dar o quinto cigarro, já impaciente, disse: agora só tem baseado...
O tio Osny era assim: uma mistura de irreverência, bondade, genialidade e talentos. Com um espírito inquieto, é bem possível que esteja aqui, hoje, apreciando mais uma de suas iniciativas. Provavelmente rindo, segurando um cigarro com a mão esquerda e um copo com a direita, escondido atrás de seus bigodes...
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