segunda-feira, 21 de maio de 2018

MAIO, 1968

por Emanuel Medeiros Vieira

 “O que devemos é apressar o fim do inverno de nossa infelicidade, parafraseando a famosa frase de Shakespeare no “Ricardo 3”, e fazer surgir uma nova primavera”
(Renato Janine Ribeiro)

(Em 10 de maio de 1968,
estudantes ocupavam a Sorbonne.)
Desejávamos soprar a poeira da eternidade.
Seja realista: exija o impossível,
passeatas, cassetetes, éramos eternos.
Comíamos o pão de cada dia
com a flor da utopia na lapela.
“A imaginação no poder”,
mas nossos amigos não estão no poder.
Destinos rabiscados, entes descartáveis,
grãos de areia na imensa praia global.
E o passado não passou.
Fragmentados, ilhados: o barco fez água,
comitês de sonhos viraram praças de
vorazes burocratas,
o povo servindo aos donos da pátria,
crendo que a servem.
Che Guevara saiu saiu da guerrilha para triunfar
nas camisetas.
Num muro, li:
“Acorda, Lênin: eles enlouqueceram.”
50 anos, sim – meio século.
A barricada fecha a rua, mas abre a via.
Cerração dissipada, pipa no céu, regata assistida aos sete anos: outrora/agora.

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