INDRANIL MUKHERJEE / AFP |
Nestes últimos três meses vivenciamos inesperadas mudanças no nosso cotidiano, interrompendo ou mesmo descartando planejamentos. Mas, isso acontece frequentemente quando não se considera a história, não se observa o contexto geopolítico, ou se observa com lentes carregados de poeira. Repentinamente setores e políticos que desmantelaram e desqualificaram até ontem o sistema público de saúde, defendiam qual panaceia os planos privados, passeiam hoje com coletes do Sistema Único de Saúde.
A pandemia do COVID-19 trouxe à tona discussões que pareciam ter sido vencidas por uma visão de mundo individualista, egoísta e intolerante, quando surge uma doença de alta transmissibilidade trazida do exterior principalmente por aqueles que recentemente visitaram países com elevado nível de infecção.
Como as evidências científicas e práticas de outros países demonstram, perante a carência de métodos farmacológicos comprovados, a melhor forma de prevenir uma incidência forte na sociedade é a supressão do contato social.
Curiosamente essas afirmações tem encontrado intensa resistência de setores que parecem hipnotizados pelos profetas da ignorância, que repetem qual mantra estranhas teorias, sustentadas por convicções que confrontam o conhecimento construído por séculos. Esses setores são secundados por milícias virtuais, que assiduamente comportam-se como agitadores do ódio, desconstruindo as solidariedades sociais e incentivando uma competição darwiniana.
O sistema público de saúde, concebido como universalista, tem sido atacado e esfacelado intencionalmente para fortalecer a mercantilização, que evidentemente é incapaz e não possui o objetivo de atender a todos. Extinguiram-se setores importantes que monitoram e elaboram políticas preventivas, para diminuir gastos, eliminaram-se setores de pesquisa e fabricação de insumos indispensáveis para a saúde pública em nome de uma eficiência nunca comprovada e neste momento imprescindíveis para a defesa da vida. Nesse cenário resta perguntar pelo rumo que nossa sociedade vai tomar, a satisfação do anseio pela riqueza em detrimento da vida? Legitimar o pensamento em curso de que algumas vidas valem mais de outras? Quem possui a medida dessa meritocracia? Somente quem possui ar condicionado pode viver?
Guillermo Johnson
Professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas/UFMA
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