por Karin Elisa Schemes*
Tempos duros
de medos e incertezas. Tempos de isolamento,
pensamentos solitários, solidários... ou nem tão solidários por vezes...
Em tempos
de batalha, nós médicos, por vezes, podemos passar por situações de termos que
efetuar escolhas. Escolhas estas, como juízes, que decidem sobre as vidas de
outrem.
O que faz
uma vida valer mais que outra? Que critérios são utilizados nessas horas de
escolha? Quem disse que a vida de um jovem vale mais que a do velho? Ou
vice-versa? Porque a vida do cientista pode valer mais que a vida do
artista? Pensando de forma utilitarista,
qual o mais necessário? Mas qual seria o mais amado? O mais prestativo? O mais
amigo?
Questões
como estas ultrapassam muitas vezes a barreira do razoável.
Estabelecer critérios para a seleção de quem vai ser o
“eleito” na hora de disputar uma vaga de UTI com direito aos escassos
ventiladores mecânicos pode ser crucial e necessário. E principalmente: tentar ser justo. Priorizar
o socorro de forma ética, sem discriminação de qualquer tipo. Em sociedades
adiantadas isto já pode estar estabelecido, mas na nossa realidade, a
consciência da escolha ao final do dia fica à critério do profissional de
saúde. Em casos de escassez de recursos materiais e humanos, estas escolhas
geralmente são difíceis e dolorosas.
Guerras e
pandemias têm esse poder: fazer pensar sobre valores. Colocar o valor em cada
coisa, cada sentimento, cada vida.
O presidente
dos Estados Unidos declarou que, no famoso sentido de “primeiro os americanos”,
máscaras cirúrgicas e de proteção não irão sair daquele país, pois eles
“precisam “ das máscaras. Ao mesmo tempo, confiscavam itens que seriam
destinados a outros países e que estava fazendo “escala” em Miami. Ofereceram
mais por mercadorias da China que já estavam negociadas com outros países...e
levaram! Serão eles superiores e merecem
as máscaras e insumos mais do que as outras nacionalidades?
Enfim: que
aproveitemos este tempo de reclusão forçada para refletir. E quem sabe
possamos descobrir que somos mais que números, mais que estatísticas, mais
éticos e mais humanos. E que, nós médicos, não percamos as esperanças, que tenhamos
nessa oportunidade o prazer de nos sentirmos realmente úteis além da conta!
*Anestesiologista do Imperial Hospital de Caridade - Florianópolis e doutoranda do Programa Doutoral de Bioética da
Universidade do Porto- Portugal.
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