Foto: Diórgenes Pandini (NSC)
A
força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) em Santa Catarina que
atua nas investigações relativas à Operação Alcatraz, que apura um
alegado esquema de corrupção, lavagem de dinheiro, fraudes em licitações
e desvios de recursos públicos no Estado, ajuizou nesta segunda-feira
(14) a 15ª denúncia no caso. Destas, seis já foram recebidas pela
Justiça Federal de Florianópolis.
Desta vez, a denúncia é em face do ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Julio Garcia (PSD), “familiares e um empresário que atuava como seu operador financeiro”, informa a assessoria do órgão.
“Todos são acusados de lavagem de dinheiro, por ocultarem a origem, disposição, movimentação e propriedade de recursos oriundos de propinas recebidas em licitações e contratações fraudadas e de bens adquiridos com esses valores”, segundo a Procuradoria de República em SC.
Os procuradores da República pedem à Justiça Federal que seja feita a reparação integral do dano, de no mínimo R$ 2.337.691,31 (em valores da época). Caberá à juíza Janaína Cassol Machado a decisão de receber ou a denúncia, tornando ou não os denunciados em réus em ação penal.
O texto divulgado pela assessoria da PRSC não traz os nomes dos denunciados, em razão de o caso correr em segredo de Justiça, porém, a denúncia começou a circular em grupos de WhatsApp já no final da tarde de segunda-feira (14), inclusive para órgãos de imprensa nacionais, como a Revista Veja, por exemplo, antes mesmo da divulgação oficial pelo órgão em SC.
Afirma o texto da PRSC, que se refere a Garcia como “ex-conselheiro do TCE”, embora ele seja o atual chefe do Legislativo catarinense e também “ex-deputado”, eis que já ocupou cadeira na Assembleia Legislativa anteriormente:
“Os fatos criminosos
objeto da denúncia envolvem vultosos pagamentos realizados pelo operador
financeiro para a aquisição de bens – apartamentos, terreno e 103 vagas
de garagem em prédio comercial – e outras despesas pessoais do
ex-conselheiro e de seus familiares, com recursos oriundos de
contratações e licitações fraudadas pela organização criminosa.
O
ex-conselheiro mantinha uma verdadeira “conta corrente” com o operador
financeiro denunciado que, por meio de uma planilha, controlava o
ingresso de propinas pagas pelos prestadores de serviços do estado e os
repasses realizados ao ex-conselheiro, tanto em espécie quanto por meio
do pagamento de despesas pessoais, inclusive de seus familiares,
especialmente para aquisição de imóveis.”
Influência política
As investigações revelaram que o ex-conselheiro ‘se insere justamente no ápice do núcleo dos agentes públicos [da organização criminosa], responsáveis por viabilizar as fraudes nos processos licitatórios e os desvios de recursos públicos’, a partir de sua ‘inegável influência política no estado de Santa Catarina’, que ‘lhe permitiu, durante todos esses anos em que ocupou cargos públicos no estado, articular uma extensa e complexa máquina de fraudes, desvios e corrupção espraiada pela administração pública catarinense’.
Usando esse forte poder político, o
ex-conselheiro fazia diversas indicações políticas para cargos públicos
no estado de Santa Catarina, nas várias esferas e poderes. Em
contrapartida, esses apadrinhados, ocupantes de cargos públicos, sob as
orientações e determinações do ex-conselheiro, “promoveram os mais
variados interesses de seus corruptores, viabilizando contratos
milionários com órgãos e entes estatais, tudo em troca de vultosas
vantagens econômicas indevidas – propinas, em claro português –,
gerando significativo incremento patrimonial para diversos dos agentes
públicos e políticos envolvidos”.
Entre os apadrinhados do
ex-conselheiro está um ex-secretário-adjunto de Administração, já
denunciado e réu em diversas ações penais no âmbito da Operação
Alcatraz, entre outros crimes, por fraudar diversas licitações e
contratações públicas, em especial da Secretaria de Estado da
Administração.
Todos os valores de propina que foram objeto
de lavagem são oriundos de licitações e contratações fraudadas – e em
muitos casos também superfaturadas – realizadas até 2018, em gestões
anteriores do governo estadual, período em que a atuação da organização
criminosa se espalhou por vários órgãos e entes da administração pública
catarinense.
A nova denúncia proposta na Justiça Federal de Florianópolis é assinada pela subprocuradora-geral da República Samantha Chantal Dobrowolski e pelos procuradores da República Alisson Campos, Carlos Humberto Prola Junior, Douglas Guilherme Fernandes e Mário Sérgio Ghannagé Barbosa, que compõem a força-tarefa que trabalha nas investigações da Operação Alcatraz.
Matéria da JusCatarina
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