Passávamos de carro pela via expressa sul quando vimos que estavam montando a lona do circo Vostok. A Luisa falou então que o tio Jê disse que a traria ao circo. Mesmo dirigindo naquele trânsito ruim de fim de tarde rumo ao sul da ilha o pensamento voôu e entrei no mundo dos circos da minha vida.
- Respeitável público!
A frase saiu de repente em alto e bom som. A Luisa ficou atenta. Falei então que era assim que abriam os espetáculos no circo. O "dono", vestido com um casaco vermelho de lantejoulas, camisa e calça branca enfiada em umas botas de cano alto - normalmente eram os domadores - entrava triunfante com uma cartola preta na mão, anunciando o espetáculo.
- Respeitável público!
Uuuaaaauuu!!!!! |
Logo atrás vinha a banda tocando a clássica Entrada dos Gladiadores, de Julius Fucik, (até solfejei a música para a Luisa) e atrás, pela ordem, bailarinas, trapezistas, malabaristas, mágicos, chipanzés, cavalos e...a palhaçada. Vinham num desfile malcomportado, dando cambalhotas, soltando traques e tropeçando uns nos outros, aquela alegria.
Luisa ouviu tudo com muita atenção. A expectativa de ir ao circo se tornava cada vez maior, até que chegou o dia e o tio Jê, conforme prometido, a levou ao circo Vostok. Soube, no outro dia, que saíram no meio do espetáculo. A Luisa não havia gostado e pediu para ir embora. Fiquei curioso e preocupado. De repente "desenhei" para ela um circo fantástico, maravilhoso que não existia mais e ela acabou se frustrando.
Fui procurá-la para saber do acontecido.
- Não tinha graça, vovô! Me disse de chofre, sem dar muita importância à minha curiosidade.
- Mas não tinha palhaço? insisti.
Esses palhaços... |
Bem, frustrado, preferi não falar mais no assunto e saí me sentindo culpado de ter criado tal expectativa na guriazinha. Até me questionei se o meu circo, aquele, era tudo aquilo que havia narrado para a Luisa.
Passados alguns dias o assunto circo volta à baila. O Circo Tihany estava na cidade. O "dono" do Tihany, francês, foi ao La Cave, gostou, fez amizade com o pessoal da casa e acabou fazendo um convite especial para que visitassem o circo.
Lá foi a Luisa para mais uma experiência circense. Desta vez foi maravilhosa. A Luisa adorou os circo, o espetáculo, as cores das roupas, as luzes, as bailarinas, malabaristas e contorcionistas. Mas uma coisa deixou-a pasma, impressionada: o mágico que fazia uma mulher desaparecer!
Alegria... |
Bem, fiquei feliz com a notícia. Finalmente a Luisa havia entrado no mundo mágico do circo!
Depois do espetáculo, o diretor do Tihany convidou a Luisa, os pais, o tio Jê e a Julia para uma visita ao back stage do circo. Bem, essa parte me deu um certo temor pois alguma cena dos bastidores poderia quebrar a mágica do espetáculo, do circo.
- Vovô, eu vi o mágico de bermuda e sem chapéu, lá atrás. E até uma mulher parecida com aquela que tinha desaparecido, mas não era, pois estava de bermuda e chinela!
Por pouco, pensei! A mágica estava preservada!
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