quinta-feira, 17 de setembro de 2015

"É APENAS"

Por Emanuel Medeiros Vieira

Para as doutoras Alice e Luciana

“É apenas em sacrifício dos sem esperança que a esperança nos é dada” . (Walter Benjamin)


Tanta madrugada.

Venha sol: como ontem.

Os olhos não descansaram nesta noite.

E pensas – internalizas fundamente:

“É apenas em sacrifício dos sem esperança que a esperança nos é dada.

O que fazer?

Deste mundo estilhaçado –  só fragmentos e carnificinas.

E repetições.

Vem sol – como ontem – reitero.

Canta um pássaro – não, não escutei nenhum galo.

E anunciam que a matança continua – , guerras, refugiados, narcotraficantes.

Terá o Teu Sacrifício Sido em Vão? Não.

Nenhuma declaração  de amor–amor (autêntico) é inútil.

“Senhor, Tu sabes que eu Te amo” (São Pedro – pedra).

E – sim –  é apenas em sacrifício dos sem esperança que a esperança nos é dada.

(Se poucos os que escutam: é preciso repetir, pregando no deserto  – fecundo.)

Não te esqueças de todos que perambulam pelo planeta.

E com perdão pelo lugar-comum: suplico pelos  “pequenos”, anônimos, tão sós, tão sem voz,

sem nome, sem nada.

E se sobrar alguma dádiva, peço um pouquinho também por mim – pequeno grão de areia

na imensa praia global.

Toda palavra parece inútil (mas o sol chegou).

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