“Os chiqueiros fazem os porcos ou os porcos
fazem os chiqueiros?”
Dalrymple, Theodore. A vida na Sarjeta
Dalrymple, Theodore. A vida na Sarjeta
– O círculo vicioso da miséria moral, 2014.
por Eduardo Guerini
O arquivamento da denúncia de corrupção passiva contra Michel Temer sepultou as esperanças da sociedade brasileira no combate efetivo a corrupção epidêmica que se disseminou em todas as esferas da República Federativa. A estratégia governista na cooptação de parlamentares não é nada novo no esteio de governos que necessitam da governabilidade para impor suas propostas para o Brasil.
É indubitável que a liberação de verbas parlamentares, em momento de contração fiscal, com demandas sociais crescentes diante do cenário aterrador da maior recessão e nível de desemprego jamais visto na história deste País, transformou-se em meio para atingir o objetivo desejado por Michel Temer e seu Ministério. Não se tratou de garantir a continuidade da agenda reformista e de retomada do crescimento, mas, da sobrevivência política de uma parcela considerável de investigados no âmbito do “foro privilegiado”.
A condição é a formação de um Estado Cleptocrático de Direito, a corrupção pouco a pouco se naturaliza e se institucionaliza na compra e venda de apoio no interior do Congresso Nacional. Não importa o partido político e sua orientação ideológica – à esquerda, ao centro e à direita, todos os representantes parlamentares estão irmanados na sanha corruptiva e se movimentam para abastecerem a máquina eleitoral. O abismo entre governantes/governados, representantes/representados, partidos políticos e seus programas são elementos garantidores da crise de legitimidade e representatividade das instituições e da frágil democracia brasileira.
Estranhamente, a multidão que invadiu as ruas e avenidas brasileiras para o impedimento de Dilma Rousseff, ficou silenciada e resignada. As sucessivas propostas do governo Temer para as reformas estruturais, têm um único alvo - desmantelar o sistema de seguridade social brasileiro, flexibilizar as relações trabalhistas, garantindo a segurança jurídica e lucros para setores conservadores que sonham uma república sem povo. Os resquícios autoritários são visíveis no ressurgimento do CENTRÃO e do DEM, duas forças conservadoras que tramam contra o interesse da maioria da população.
A rejeição categórica aos partidos, parlamentares e ao próprio governo, pode ser um lampejo para as forças progressistas, o catalisador que indique um percurso alternativo ao caminho percorrido nos governos Sarney, Itamar, FHC, Lula e Dilma.
É gritante a inexistência de um projeto nacional para o Brasil, com clara orientação para reformas estruturais que tenham como eixo a distribuição de renda, a inclusão pelo emprego e uma nova estrutura tributária, elementares para evitar a regressão socioeconômica em curso. O estágio é de reconfiguração de arranjos sócio-políticos, redefinição de agenda e formas de atuação do movimento social.
Para superar nossas dúvidas, a retomada da confiança na atuação das lideranças dos diversos setores da sociedade implica que teremos uma longa e tortuosa caminhada para reestabelecer os laços de cidadania, rompidos pela degeneração ética no Brasil.
Vivemos um limbo político-ideológico que nos remete a máxima de Dante: “Vamos, pois o longo caminha nos impulsiona”!
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