quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

CIDADE DA BAHIA (SAUDADES)

por Emanuel Medeiros Vieira
 

(Foto: Andrea Farias/Arquivo CORREIO)
(...) Se eu deixar de sofrer/Como é que vai ser/Para me acostumar?/ /Se tudo é carnaval/Eu não devo chorar” (...) (BATATINHA)

   Assim o escritor Jorge Amado (1912-2001) gostava de chamar Salvador: “Cidade da Bahia”.
   Não, não é uma tese. Nem chega perto de um artigo profundo. É uma homenagem a um cidade – urbe amada – que vejo desaparecendo, na destruição, no argentarismo, na feitura de seus prédios “chics e novos”, na desvalorização dos seus melhores talentos, no lixo que é oferecido à população (maioria) que não lê jornais.
   Ah, Velha Bahia amada: inzoneira, sestrosa, poética, cayminiana e amadiana,
   Uma cidade “ainda guardada nos cartões do Tempostal", nos sambas de Batatinha, nos primeiros e velhos romances de Jorte Amado, e também em João Ubaldo (que falava mais da sua amada Ilha de Itaparica).
   Este estado gerou Castro Alves (1847-1871), Anísio Teixeira (1900-1971), Milton Santos (1926-2001), Carlos Marighella (1911-1969), BATATINHA – *(Oscar da Penha) – (1924-1997), João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) e tantos outros valores.
   E na mediocridade quase total, quem pensa na Bahia, só “enxerga” ivetes, danielas, browns, axé, sofrências, sertanejo universitário, samba para turista e outros pesados lixos. Nada que preste.

    Pena não ter espaço para inserir, letras de Batatinha!

   Sim: e o turista deslumbrado que só registra, não vê.

   Vai ao Pelourinho e nada sabe de sua dolorosa história; a comida típuica, eu sei, é “feita” para turista, Como a macumba. Nem em Havana (se forem l-a- não vão porque não têm shoppings) não verão uma autêntica “santeria”(que saudades!).

   Quem não conhece, está lascado. E ainda sorri estupidamente.

   Por favor, leiam abaixo – com atenção (se der). Morreu no dia 2 de janeiro, Antonio Moreira da Silva, figura muito conhecida da boemia e de toda a cidade de Salvador (ele e o irmão eram donos do “Ponto do Moreira”. O ponto foi herdado do pai já falecido. O local e o dono do local eram mais conhecidos como “Moreira”) É um dos restaurantes mais queridos da cidade (das “antigas”, que lembra algo da Kibelândia, na Ilha, o finado “Bar do Afonso” e o resistente “Beirute”, em Brasilia).
   Fica perto da 2 de Julho, região emblemática, mas nada nobre (no sentido burguês da palavra) era o coração dos poetas, dos funcionários das redondezas. Um bar gostoso, agregador – nada que lembra os espaços americanizados e os dos sanduíches pronto
   Nada tinha de mecanizado.
   Era dos locais preferidos de Jorge Amado em Salvador..

   ESTE TEXTO É DEDICADO AO GRANDE SAMBISTA BAIANO BATATINHA –(nome cartorário – Oscar da Penha (1924-1997) E A OUTRO GRANDE BAIANO, QUE NOS DEIXOU NO DIA 2 DE JANEIRO DESTE 2018: ANTÔNIO MOREIRA, (DONO DO RESTAURANTE “CASA DE PASTO E ESPÍRITO PORTO DO MOREIRA” ) Um dos melhores letristas da Bahia e, certamente, do Brasil.

   Só para lembrar: o estabelecimento do Moreira foi citado por Jorge Amado, no seu romance “Dona Flor e os Seus Dois Maridos”.

    Adeus, Moreira! Obrigado, Batatinha!

(Salvador, janeiro de 2018)

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