quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Escassez, Política e Ecologia.

por Marcos Bayer

   No mundo econômico existe o lucro, o logro e o caos. As teorias econômicas relevantes são três: O liberalismo de Adam Smith (1776), o estatismo de Karl Marx (1848) e a intervenção do Estado na economia de John Maynard Keynes (1932) quando o então governador do Estado de Nova York, Franklin Delano Roosevelt, a utilizou para tirar a Bolsa de Valores da crise de 1929 e lastrear sua candidatura vitoriosa à presidência dos Estados unidos. Foi reeleito em 1936, 1940 e 1944.
   Em 1950, nós éramos dois e meio bilhões de habitantes no planeta. O mundo vivia a guerra fria e as duas superpotências eram os EEUU e a URSS. A Europa estava sendo reconstruída por causa da destruição da Segunda Grande Guerra e a cortina de ferro estava sendo pendurada. O Vostok só iria levar Gagarin ao espaço em Abril de 1961, Neil Armstrong só pisaria na Lua em Julho de 1969, os Beatles saiam de Liverpol para o mundo e nós ainda não sabíamos o que era fast-food, um MD-11, Sky Lab, Prozac, Lap Top, Megabytes, i phone, botox, ecstasy, Bluetooth e pen drive. Muito menos armazenar na Cloud. Nuvem até então, ou estava no céu ou na cabeça do menino que vivia no mundo da Lua.
   O poder político gira em torno das três teorias econômicas acima, criando algumas variações, como o capitalismo de Estado na China moderna, mas nada fora desta lógica triangular.
   Em alguns países a prática política é mais ou menos decente. Depende. Países em que a liberdade de imprensa e a sociedade são mais educadas o controle é maior.
Mas, normalmente o jogo político também é um tripé. O poder político decide liberar dinheiro acumulado com sacrifício de todos através de suas instituições, o BNDEs por exemplo, para um conglomerado empresarial, a JBS por exemplo, para financiar a manutenção do grupo político no poder.
   O Brasil viveu por vários anos esta trágica experiência. No dizer de Lula, desde as capitanias hereditárias. No dizer de outros, mais recentemente.
   Tanto Paulo Guedes, economista e conhecedor da História da Economia, quanto Sérgio Moro, juiz e talvez jurista, sabem o exato funcionamento destas engrenagens de poder. Sob este aspecto, o governo Bolsonaro está muito bem servido. Onyx Lorenzoni, aparentemente um parlamentar com bom trânsito entre seus pares, parece que vai ter que se explicar um pouco melhor em razão das mais recentes planilhas de custos da JBS. Se convencer 100% (cem por cento) estará dentro da meta do presidente eleito.
   Aqui em Santa Catarina, a JBS foi financiadora de inúmeros políticos e perdeu a quase totalidade de seus contatos. O catarinense decidiu, com fúria cívica, enterrar os que com caras de anjos sugavam recursos da sociedade com bocas de vampiros.
   Sobre o novo governador eleito, muito pouco ainda se pode comentar.
   Mas, voltando ao título do artigo, quase chegando ao ano 2020, vemos um mundo com sete e meio bilhões de habitantes. Aproximadamente vinte e cinco milhões de pessoas refugiadas, perambulam entre fronteiras europeias, africanas, árabes ou americanas, buscando trabalho, comida, saúde e educação, pelo menos.
   Quando se discute a reforma previdenciária, no mundo inteiro, é dentro deste panorama. Mais longevidade, menos gente na ativa contribuindo para o aposentado. Isto, por si só, estimula o crescimento populacional.
   Então, as chamadas carreiras de Estado, como magistratura, diplomacia, fiscais de tributos e renda, promotores, parlamentares e conselheiros de tribunais diversos se protegem atrás das leis que concebem, votam e usufruem.  Não por acaso, no Brasil, a distancia entre o salário mínimo e o salário do ministro é de quarenta vezes. Isto é no mínimo indecência moral. E é assim que o capital subjuga o trabalho. Num mundo onde há cada vez mais capital e menos trabalho. O povo brasileiro, mesmo sem escolaridade suficiente já percebe a hipocrisia dos que falam em seu nome.
    Pequenas modificações no comportamento humano mostram duas tendências: 
(1) A passagem do mundo mecânico de Isaac Newton para o mundo do easy touch, o digital, e suas decorrências. Entre elas a eliminação de postos de trabalho em escala planetária, visto que um homem pode fazer cada vez mais. Mesmo na agricultura, um trator atual tem funções e controles que dispensam o trabalho de outros agricultores.

(2) A otimização dos espaços e custos em todas as áreas da atividade humana. Desde o Uber que ocupa assentos vazios nos automóveis, passando pelo Airbnb que ocupa camas vazias, às compras do e-commerce até às passagens das companhias aéreas que não aceitam mais reservas, mas apenas a venda imediata on-line.

   Ontem, os telejornais comentavam a abertura de um bordel operado por robôs num país da Escandinávia. Engraçada ou trágica a Inteligência artificial?
   Todos estes detalhes alteram o mundo do trabalho. O trabalho humano é habilidade que constrói nossa História como também permite desenvolver ao extremo nossa personalidade. Arbeit, liebe und Gott. Trabalho, amor e Deus, dizem os alemães.
   Some-se aos argumentos, o fato de que aproximadamente três bilhões de asiáticos, especialmente chineses e indianos, entraram no mercado mundial nos últimos quinze anos. Isto significa aumento da oferta de mão de obra e consequente diminuição dos valores dos salários em escala global.
   Na Índia, em Bangalore, na estrada que dá acesso a maior cidade tecnológica deles, está escrito: From handicraft to cybercraft. Do artesanato à cibernética.
   A saída do Reino Unido da União Europeia, mesmo tendo preservado a libra esterlina, é um fechamento de fronteiras para proteger seus súditos.
   A vitória de Donald Trump significou o mesmo. Com ou sem Twitter presidencial, os norte-americanos querem de volta seus postos de trabalho.
   Vivemos tempos de escassez. Será constante e contínuo. Há limites no planeta. As jazidas minerais são finitas, a água potável não é bem cuidada, os espaços prediais ou territoriais, nas cidades, estão cada vez mais caros.
   Em alguns países, na Espanha, por exemplo, o custo da energia do imóvel (calefação, refrigeração e iluminação) está se aproximando do custo do aluguel. Isto é outro sintoma de escassez.
   Há uma disputa entre desmatar para produzir soja e milho e transformar em ração para alimentar aves e suínos e pastagem para o gado ou preservar as florestas para garantir a vida de outras espécies e a própria água.
   Os processos educacionais estão em cheque. Exceto nas tradicionais escolas britânicas. Talvez, ainda, as melhores do mundo.
   E no meio deste mundo tão complexo, eu escuto hoje, o ex-presidente da República do Brasil perguntar à Juíza: Doutora eu sou dono do sítio ou não? E ela disse: Isso quem tem que responder é o senhor!


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