sexta-feira, 17 de julho de 2020

O Entregador

por Marcos Bayer

   De uma forma ou de outra, as pessoas têm vocação. Algumas mostram a vocação desde pequenas e de maneira muito nítida.
   E uma das maravilhas da personalidade humana é o exercício de uma vocação.
   Poetas, políticos, médicos, advogados, carpinteiros, engenheiros, padeiros, pedreiros, cavaleiros, sanfoneiros, cantores ou bufões.
   Mágicos, professores ou foliões.
   No exercício do poder, especialmente o poder político, dá gosto de ver a vocação.
   O governante sente prazer no seu ofício.
   Acorda cedo para tomar conhecimento dos assuntos de governo. Sai pela estrada ou voando, para visitar seu território. Saber das necessidades, discutir soluções.
   Governar é um exercício constante.     Ininterrupto.
   Tem festa, tem dor. Tem obras, tem sobras. Escassez e louvor...
   A História de Santa Catarina registra governadores e seus respectivos times
de absoluto vigor.
   Governos criativos, inovadores e arrojados.
   Não vou mencioná-los porque desnecessário. Houve também governos inoperantes, corruptos e acomodados.
   Dispensam apresentações.
   Mas, o atual governo é algo inusitado.
Vitória estrondosa nas urnas, eleito para mudar comportamentos viciados, o atual governador enclausurado no palácio, faz cerveja e toca violão.
   Prefeitos reclamam apoios, deputados reclamam diálogo, doentes reclamam respiradores.
   É impressionante a falta de vontade de sua Excelência.
   Na crise da pandemia, colocou o colete laranja, para dar conselhos sobre o comportamento da população.
   Adoeceu, voltou ao ringue e nada falou sobre seus sintomas, tratamento, equipamentos e medicamentos.
   Um egoísmo fatal.
   E este egoísmo é a base visível de sua personalidade. Nunca quis o poder. Fez carreira com rigor na hierarquia. Não há registros de liderança na corporação. Nada que tenha emergido à sociedade.
   Aposentado, foi assessorar um vereador na Câmara de Tubarão.
   Mais um sintoma de falta de apetite.
   Eleito, inesperadamente, governador sentiu-se na Disneylândia.
   Um palácio, automóveis e seguranças, protocolos e continências. Vive o que nunca sonhou ou desejou.
   Não vai para as ruas, não vai escutar a sociedade, não se movimenta.
   Vive o sonho egoísta do conforto e da pompa. Perdeu a noção.
   Nem falo na "compra" dos equipamentos chineses que não chegaram, embora pagos.
   Trocou duas vezes o chefe da Casa Civil.
   O primeiro com ajuda da Polícia. Trocou um secretário de saúde da mesma forma. Perdeu o Controlador Geral do Estado por absoluto descontrole. Perdeu o secretário das relações Internacionais que sequer foi ao Paraguai.    Trocou o líder do governo na ALESC. Duas vezes?
   Em um ano e meio de governo, este é o balanço.
   O governador, até agora, é um entregador de mãos vazias.
 

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