terça-feira, 18 de setembro de 2012

O sorriso do jegue

   Por Marcos Bayer
   O título vem à cabeça quando começo a escrever sobre o Brasil, Santa Catarina e a cidade de Florianópolis. Primeiro para lembrar que no plano nacional nossas maiores expressões estão no futebol, na música e alguma admiração na pintura e na literatura.
   Isolado no tênis o Gustavo Kuerten com Maria Ester Bueno e no automobilismo Ayrton
Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi. No voleyball de quadra e de praia, algumas estrelas.
   Na arquitetura temos um fenômeno milenar, Oscar Niemayer, nosso melhor comunista.   Niemayer, generoso, deu ao Brasil e aos amigos todo abrigo e ajuda que lhe foi possível dar. As pirâmides do Egito, o Coliseum, os castelos medievais e suas concepções sinuosas arcadas no concreto.
   Pelé e seus discípulos fazem do Brasil o país do futebol. Villa Lobos, Carlos Gomes, João
Gilberto, Tom Jobim, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Tarsila do Amaral, Di
Cavalcanti e Monteiro Lobato.
   Não temos homens de Estado com projeção internacional, não temos juristas ou economistas de projeção mundial. Temos um médico como Pitanguy e outros nas áreas de neurologia ou cardiologia.
   Leonel Brizola talvez tenha sido o expoente máximo, muito mais pelo exílio do que pelo exercício de uma presidência que não existiu. Juscelino Kubitscheck pela construção de Brasília.
   A nossa classe política, especialmente depois da redemocratização de 1985 é a responsável por esta escassez de lideranças. Surgiram algumas nas três esferas do poder. Mas, a barafunda foi maior. Partidos políticos nasceram, bandeiras erguidas e votos conquistados.  Coligações de todos os matizes são formadas e desfeitas de acordo com as necessidades internas. O povo se defende de um lado, enganado do outro por seus supostos líderes.
   Já não sabemos de que lado estamos. Apenas nos defendemos da ação predadora da
classe política, salvo exceções.
   Agora, com o julgamento da ação penal 470, no STF, surgem novas hipóteses.
   Uma delas, a de que o Lula autorizava todos os negócios.
   Se verdadeira, teremos a certeza de que a chamada direita sempre comeu em mesa
farta, quando possível nos salões de Paris. Nossa esquerda, especialmente a mais
culta, comeu em lugares mais modestos sob o abrigo de uma França humanitária, por
excelência.
   No poder, ambas participam das licitações, melhoram de vida e aumentam o
patrimônio material.
   A chamada direita nunca prometeu igualdade, apenas para os seus.
   A chamada esquerda, salvo exceções, faz o caminho da direita. É mais lucrativo.
   O psiquismo humano explica: alguns assentam seu valor sobre a beleza, outros sobre a
fortuna, muitos sobre o saber e a maioria sobre a aparência.
   Raros assentam seu valor sobre o caráter...
   Quando olho para a política brasileira, a catarinense e a florianopolitana, penso no
sorriso do jegue... Não sei exatamente por que...


Nenhum comentário:

Postar um comentário