Canga, senti falta dos posts mas não reclamei. Sei o que é o cansaço de blogar. E também apostei que estavas preparando coisa boa, o que se confirmou nesse rápido vôo por tuas viagem. Sabor de fronteira em tudo o que o fronteirista fala. Especial de luxo.
Só uma coisa: lá em Uruguaiana não tem bacudo. Isso é esnobismo da elite oriental. O sujeito deveria ser de outras bandas. Conta a história direito, tchê.
Bom tua volta. Tem pouca coisa para ler na rede. Abs.
Pois é, fiz um relato da minha ausência no blog e várias pessoas me telefonaram, mandaram e-mails e comentaram a minha ausência. Uma delas foi o jornalista, escritor, poeta e gente muito boa Nei Duclós. O Nei é fronteiriço como eu, nasceu em Uruguaiana, e somos grandes amigos. Nunca nos encontramos pessoalmente mas o carinho com que comenta meus posts e a relação virtual que mantemos me dá muita alegria. A liga vem de um amigo em comum. O jornalista José Antonio Ribeiro, o famoso e saudoso Gaguinho. Com ele o Nei Duclós, mais uma cáfila de gaúchos, fundaram o Jornal de Santa Catarina em Blumenau.
Bem, o Nei acusou o golpe da minha ausência, o que me deixa lisonjeado, mas...atento como sempre, fez um reparo a uma palavra que usei para falar de um personagem da Uruguaiana. Bacudo. Para mim, bacudo sempre foi o grosso de campanha, o peão de estância com pouca instrução.
Mas aí o Nei me diz que em Uruguaiana não existe bacudo e que Isso é esnobismo da elite oriental. Oriental leia-se uruguaio. Me botou numa sinuca de bico. Fui pesquisar o termo bacudo e encontrei esta explicação de um cara de...Quaraí.
Sou de Quaraí e não nego. Cidade dos três quês. Quaraí, Querência Querida. Quaraí foge à regra em termos lingüísticos. Rio de Janeiro, com toda inspiração poética e musical, não enraizou nem uma metonímia, nem uma aliteração que se igualasse às suas iniciais. Quaraí tem esse predicado. O vivente que vai pra Quaraí sai de lá com um novo jeito de falar, uma transformação fonética incrível. É difícil alguém que more ou tenha crescido em Quaraí e que não pegue o sotaque grosso, de arrastar a língua nos dentes.
Sou de Quaraí, cresci e linguagem nativa com esta nunca vi. A ligação torna um ar poético, mas não foge nada à regra. Vivi em Quaraí há mais de vinte anos, e esta cidade tem dotes peculiares. As coisas lá acontecem, e tu espalhas pra outros lugares o ocorrido e ninguém entende o que é. A palavra bacudo, por exemplo. Bacudo é um termo gauchês, da mesma acepção que bagual. No entanto, alegretenses, uruguaianenes, quaisquer outros enses, muito dificilmente ouviram falar do termo bacudo. Bacudo vem de Quaraí. Porque lá nascem os dotes da lida campeira.
Nei, também descobri que tem um médico de Uruguaiana que fez um dicionário do uruguaianês. "O médico Lourival Araujo Gonçalves reúne há seis anos os vocábulos, agora publicados na forma de um dicionário na internet. Já são 1,2 mil palavras registradas. O médico explica que bacudo, por exemplo, viria de back wood e significa quem vem de fora, do mato. O termo é relacionado, hoje, a pessoas que vêm do campo, que não tiveram muito estudo e são um pouco avessas à cultura moderna.
Bah! Nei, to me sentindo um bacudo!
Sergio, nossa amizade vem das raízes comuns, daquela fronteira regada pelo sangue dos bravos. Conheço muito bem o termo bacudo e se usa bastante em Uruguaiana, a capital da América Pampeana. Lá naquelas ruas largas só tem gente urbana, que gosta de cumprimentar espichando as vogais quando enxerga algum bagual vindo todo pilchado do interior.
ResponderExcluirA celebração do bacudo é coisa de portoalegrense, que se acha gaúcho. Costumo lembrar que gaúcho só do rio Ibicuí para baixo. Nós, da fronteira, nem fazemos muita questão, isso é coisa para CTG. Somos cosmopolitas e usamos o gauchês para assustar os paulistas.
Quando me visitam, me perguntam pelo mate (fronteirista = mate, entendeu?). Como costumo perder tudo, corro, para não decepcionar, ao supermercado mais próximo e compro cuia, bomba e erva (por falta de uso, as que eu tenho mofam). Mas a erva sempre entope, não tem jeito de aprender. Coisa de bacudo.
Diante do desastre, me perguntam, alarmados, com aquela cantada característica de voz: "Mas-tchê-tuu-não-é-lááá-de Uruguaiana? Como tu consegue entupir o mate?" Ou seja, é uma lambança só.