O poeta galês, Dylan Thomas, se estivesse vivo celebraria 95 anos este mês. Lembrei porque me perguntaram sobre ele, cinco dias atrás.
Essa crônica trata dos malditos.
Convencionou-se chamar de “maldito” aquele escritor de talento que, longe do seu “fazer”, despreza as convenções sociais, o maneirismo peculiar da sociedade que, por dever de nascimento, deveria absorver.
Não obedece às regras porque, afinal, quem segue está sempre atrás. A minha razão é essa, mas cada um pode fazer a própria lista.
A grande arte é intuitiva.
Depois de um lauto almoço elaborado por Márcia Philippe, mulher do João Vianney, ex-sócio na Editora Paralelo 27 (junto com Carlos Damião) e, coisa rara, de sócios que continuam se dando bem após o término da sociedade, acompanhados da Julie e da Jade, também o Victor Hugo, a quem acabara de conhecer, ligado a informática, bom papo, seguimos para um bolicho à beira da estrada para assistir ao Gre-Nal... Claro está que nessa empreitada só foram os homens.
Casa cheia, reduto gremista, mas o proprietário administrava a tasca com pulso firme, poderíamos ficar tranquilos, segundo a informação do Vianney, uma vez que tanto eu quanto o Victor éramos torcedores do colorado.
Permanecemos ali fora, a conversa estava boa e, com todo o respeito, não vimos o jogo. Soubemos do gol logo no início pelo óbvio da exaltação dos vermelhos.
Quando terminou o embate tive de entrar na birosca para buscar duas cervejas, porque estava na minha vez. Nas costas da camisa vermelha que usava, estava o meu nome e alguém me chamou. Logo dou de cara com três gremistas pilchados e um deles, pergunta: “o que o senhor acha do Dylan Thomas e da Beat Generation?”. Sem refletir muito, afirmo que o Bob Dylan (cujo nome verdadeiro é Robert Allen Zimmermann) adotou o Dylan em uma homenagem ao poeta... Eles me ouviram e um deles afirmou “gostei do papo, quem sabe o senhor não fica aí para a gente conversar mais?”... Disse que estava com amigos ali fora, mais tarde poderia ser.
Quando saí, me lembrei que foi o Pasquim, na década de 1970, através dos textos do escritor Luis Carlos Maciel que nos tinha revelado o Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs, Charles Bukovsky, Neal Cassady, Gregory Corso, Timothy Leary, Peter Orlovsky, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti...
Mais tarde, um dos gremistas que era também professor, se aproximou e me pediu um autógrafo... No princípio acreditei que ele estivesse tirando um sarro, mas não, se confessou um admirador e falou de uma crônica “Os Novos Beatniks” publicada nesse mesmo espaço na véspera de natal do ano passado, daí o seu interesse pelo tema.
O papo ia animado e logo os outros dois gremistas entraram na roda. Quem nos visse de longe acharia inusitado, um torcedor colorado com outros três gremistas discutindo literatura. Um deles disse que ainda curtia a velha máquina de escrever e o Victor Hugo ficou de rever sua concepção sobre o uso da tecnologia entre os mais jovens.
Afirmei que outros autores, pouco lembrados, tinham influenciado aquela geração e poucos se davam conta, citei o J. D. Salinger e “O Apanhador do Campo de Centeio” em que alguns (depois de um porre) incorporavam o personagem do livro, Holden Caulfield (rimos) e também, talvez o melhor deles, Ken Kasey que escreveu “Voando Sobre um Ninho de Cucos” e inspirado nele que o Milos Forman fez o filme “Um Estranho no Ninho”... Mais recente, “Quando Eu Era o Tal”, de Sam Kashner sobre a vida na Jack Kerouac School...
Próximo das 22hs quando o teor alcoólico da moçada já estava entrando no campo das confidências, lembrei do Dylan Thomas “Um alcoólatra é alguém de quem você não gosta e que bebe tanto quanto você”... Despedimo-nos e prometemos continuar o papo no próximo jogo, independente do Grêmio ou Internacional.
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