O jornalista Billy Culleton conseguiu uma confissão inédita do criminoso argentino, Claudio Vallejos, momentos antes de sua extradição para a Argentina na madrugada da última quinta-feira, dia 28, em Florianópolis. Leia a entrevista com exclusividade no Cangablog.
Há anos no encalço do criminoso, no dia 12 de junho de 2012, o jornalista porteño, Billy Culetton, me confidenciava: "Estou há mais de sete anos nas pegadas deste torturador. Agora o encontramos".
Billy falava de Claudio Vallejos, um torturador argentino preso no Oeste de Santa Catarina por estelionato. Vallejos participou da prisão e desaparecimento do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Junior e é acusado de ter participado da morte e tortura de civis durante a ditadura militar argentina.
Ex-torturador argentino reconhece participação no desaparecimento de Tenorinho
“Sim, eu participei da detenção de Tenorinho”, diz Vallejos a Billy. (FotoCarlos Kilian) |
O ex-torturador argentino Claudio Vallejos confirmou que participou do seqüestro do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, o Tenorinho, em 1976.
O local era o principal centro clandestino de tortura e morte da Argentina durante a Ditadura Militar (1976-1983). A metodologia incluía tortura e assassinato. Na sequência, a maioria dos corpos era jogada no Rio da Prata, nos conhecidos ‘voos da morte’.
“Sim, eu participei da detenção de Tenorinho”, afirmou, enquanto aguardava o embarque no avião rumo à capital argentina, ao lado dos dois policiais federais que o custodiavam. Ele acrescentou que esteve no operativo junto com Alfredo Astiz, o mais conhecido torturador argentino.
Aparentando tranqüilidade, ele detalhou que o pianista foi capturado como suspeito. Seu longo cabelo e aparência desleixada colaboraram para confundi-lo com um “subversivo”. Tenorinho estava na capital argentina acompanhando Vinícius de Moraes e Toquinho para diversas apresentações. Ele saiu do hotel para comprar cigarro e nunca mais foi visto.
“Tenório foi levado à ESMA e depois não sei o que fizeram com ele”, disse, gabando-se que, na época, tinha 18 anos e já participava dessas operações com militares de alto escalão. Ele considera ter sido “o mais jovem espião do mundo”.
Vallejos negou ter participado do massacre de São Patrício, em julho de 1976, quando cinco religiosos foram assassinados, em Buenos Aires. Ele foi apontado como sendo o motorista dos agentes que executaram os três sacerdotes e dois seminaristas. “Isso é mentira. Na época, eu estava nos Estados Unidos fazendo um curso na CIA”, afirmou irritado. O ex-torturador justificou os métodos usados pelos militares na década de 1970.
“Se hoje os países da América Latina vivem na democracia é graças à atuação das ditaduras, que eliminaram os terroristas”.
Ele faz uma ressalva: “Astiz era um monstro, não tinha coração e fazia horrores com os detidos”. Em dezembro de 2011, Vallejos foi preso por estelionato em Santa Catarina. Ficou no presídio de Xanxerê, Oeste catarinense. Em março ano seguinte foi transferido para a prisão de Lages. Ele vivia no Brasil desde 1985 e foi detido várias vezes por vender anúncios em veículos impressos que nunca eram publicados.Vallejos: a última viagem (Foto: Carlos Kilian) |
Vallejos embarcou para Argentina às 3h10min, de quinta-feira, num vôo de Aerolineas Argentinas. Ele foi entregue pela Polícia Federal a dois policiais argentinos que desembarcaram momentos antes em Florianópolis para custodiá-lo no retorno a Buenos Aires.
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