sábado, 16 de março de 2013

Saúde prioridade? Aonde?

   Por Armando José d’Acampora *   
   Creio que temos algo a pensar com bastante seriedade, coisa pequena, chamada saúde. Dois terços da população do Brasil depende do SUS para ser atendida quando se fala de doença. Hoje, a saúde é o segundo objeto de desejo coletivo no país, perdendo apenas para o sonho da casa própria, de acordo com Florentino Cardoso, em texto publicado no Jornal Estado de São Paulo.   
   Ainda do mesmo artigo e autor, que é Presidente da Associação Médica Brasileira, se pode extrair: “O governo tenta explicar que é por causa da falta de médicos, porém precisa ser claro com a população e dizer, por exemplo, quanto o SUS paga por uma consulta de um pediatra, de um ginecologista (menos de R$ 3). O povo precisa saber, ainda, quanto o SUS paga por uma cirurgia de adenoide-amígdala (R$ 183,41), para retirar o apêndice (R$ 161,03) - esses valores incluem cirurgião, assistente e anestesiologista -, para uma curetagem uterina (R$ 67,03), para uma ultrassonografia abdominal (R$ 24,20), para um raio X do tórax (R$ 14,32).
     E o governo central ainda tem o desplante de dizer que o que falta na saúde, são os médicos. Tanto que estão realizando um esforço imenso para importar um montão deles, sem que sequer conheçam as nossas doenças, aquelas que são próprias de cada local, cada região do nosso país, algumas delas já não existem há muito em outros países. Simplesmente foram extintas no correr de muitos anos de cuidados comunitários em programas dos governos, sábios governos aqueles que acabam com as doenças.   
   A cada ano, saem das faculdades de Medicina, pouco mais de 16.000 novos médicos. Como fazer para que eles aceitem um salário alto, pois há Prefeituras que pagam muito bem, sem que haja na localidade condições mínimas para o desenvolvimento de uma medicina decente?
   E o governo rebate: não há médicos. Mas também não há nessas pequenas localidades, Dentistas, Farmacêuticos, quaisquer tipo de lojas, pois em nenhuma delas, também não há sequer uma agência bancária, nem mesmo um salão de beleza. Como desenvolver ali algo parecido com medicina? Enganando a população de que é provida de um sistema de atendimento que nada mais é do que uma ambulância que serve para transferir o paciente para um outro município, com maiores condições de atendimento e que nunca tem vagadisponível, pois já se encontra saturado?
   Quem achar que estou exagerando, passe na frente do Hospital Celso Ramos antes das sete da manhã e observará um rosário de ambulâncias e vans lotadas, trazendo pacientes de todos os municípios do Estado para a Capital.   
   Pois é na Capital aonde deveria existir vagas e Hospitais capacitados.
   Só que isto é utopia. Há umas três décadas não se constrói nenhum Hospital por aqui. Não há leitos disponíveis, e mesmo que houvesse, não há material humano da enfermagem para ativar esses leitos. Isso sem falar que o Hospital Florianópolis está em reforma há quatro anos. Leva-se dois anos para construir um inteiramente novo.   
   Dinheiro não é problema, pois o que se gasta em futebol, na construção de estádios faraônicos, demonstra sem contraponto, que deve sobrar algum para os Hospitais e Clínicas de reabilitação deste mesmo governo, ou será desgoverno?   
   Do meu ponto de vista, é triste saber que não há vontade política para que se resolva a mísera situação da nossa saúde e finalmente retirá-la da UTI em que se encontra, há pelo menos, dez anos.

*Médico, Cirurgião, Professor Universitário

3 comentários:

  1. Mané Estrangeiro16 março, 2013 13:53

    Hospital Celso Ramos? 07:00H da manhã? Fila de ambulâncias do interior?
    Vejo esse filme ha anos.
    E apesar da minha memória já não ser mais a mesma, lembro também de um bravo candidato a governador, posteriormente mais famoso por suas mentiras do que por suas realizações, que prometeu de pés e mãos juntos que iria acabar com a "ambulancioterapia", método catarinense de assistencia à saúde.
    Até os seixos de todos os rios do estado já sabem que foi mais uma mentira do "grande líder político catarinense".

    Mesmo assim, o povo o re-elegeu e não satisfeito com esse masoquismo, ainda o fez senador da república agora para os proximos seis anos...
    De quebra, cravou o voto de terceiro mandato em seu pupilo, Colombo o Fraco.

    É de se perguntar: de quem verdadeiramente é a culpa?

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  2. O que será dos planos de saúde se o SUS verdadeiramente funcionar?

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  3. Mané Estrangeiro, estou plenamente de acordo com suas colocações. É muito fácil para o cronista meter o pau no Governo Federal, que é mais visível, e esquecer que a responsabilidade pela saúde pública é também, e principalmente, dos estados e municípios, que são os seus gestores diretos.
    Sou estrangeiro do estado de São Paulo, e posso reproduzir seu discurso apenas trocando os nomes dos irresponsáveis que a população elege.
    E da mesma maneira, lá como cá, são protegidos pela imprensa em geral. que acoberta suas maracutaias e vive de atirar no Governo Federal.
    Tenham a santa paciência, senhores Armando José d’Acampora e Sérgio Rubin!!!
    Aos poucos os eleitores vão abrindo os olhos para estes textos tendenciosos.

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