“Não se trata de discutir o que é ser uma pessoa de bem, mas de sê-la” (Marco Aurélio – imperador romano e filósofo)
Pouco antes das eleições de 2014 (primeiro turno). Eu em Campo Formoso, cidade que fica aproximadamente a
410 KM de Salvador. Já na faculdade,
coordenador de uma coluna de cinema na extinta “Folha da Tarde” e escrevendo
para o tradicional “Correio do Povo”, de Porto Alegre, amava aquelas feiras
enormes do Nordeste nos dias de sábado. Havia ido a Salvador, pela primeira
vez, representando a AP (Ação Popular), aos 21 anos, em 1966. (Voltando - tantos
anos depois em algumas cidades, como Milagres e Vitória da Conquista- “enxergava”
Glauber Rocha filmando o sertão e seus mitos).
Mas não vim falar sobre isso.
No sábado, perto das eleições (primeiro turno), fui à feira com a Célia, um cunhado e alguns amigos. “Todo mundo estava lá”, as pessoas que viviam longe das cidades, vendiam seus produtos. Cegos cantadores, muita comida, roupas etc.
(A mudança: Em vez dos jegues que via antes, agora eram as motos que dominavam a paisagem). E a sensação de que eu estava ainda num mundo não dessacralizado, ainda mítico.
Estava me preparando para experimentar umas comidinhas típicas da região, deliciar-me com uma rapadura, experimentar frutas típicas e andar pela enorme feira.
Mas não vim falar sobre isso.
No sábado, perto das eleições (primeiro turno), fui à feira com a Célia, um cunhado e alguns amigos. “Todo mundo estava lá”, as pessoas que viviam longe das cidades, vendiam seus produtos. Cegos cantadores, muita comida, roupas etc.
(A mudança: Em vez dos jegues que via antes, agora eram as motos que dominavam a paisagem). E a sensação de que eu estava ainda num mundo não dessacralizado, ainda mítico.
Estava me preparando para experimentar umas comidinhas típicas da região, deliciar-me com uma rapadura, experimentar frutas típicas e andar pela enorme feira.
Eis que sinto um movimento, barulho, um carro de som,
alto falante, gente de vermelho.
Um locutor gritava: - “Quem não votar na Dilma, perderá a Bolsa-Família”.
Não aguentei. Interpelei um dos membros da “comitiva”.
Um locutor gritava: - “Quem não votar na Dilma, perderá a Bolsa-Família”.
Não aguentei. Interpelei um dos membros da “comitiva”.
- É isso o que vocês fazem cm esse povo simples, que dizem
querer libertar?
Silêncio.
-Vocês estão praticando o “‘marxismo fisiológico”?
Um dos membros da turma me disse, com um sorriso de deboche:- Com esse povo, a gente faz isso mesmo.
Alguém que estava comigo falou que era melhor eu parar. Havia jagunços, matadores. E alguns pareciam proteger os “defensores do povo”.
Silêncio.
-Vocês estão praticando o “‘marxismo fisiológico”?
Um dos membros da turma me disse, com um sorriso de deboche:- Com esse povo, a gente faz isso mesmo.
Alguém que estava comigo falou que era melhor eu parar. Havia jagunços, matadores. E alguns pareciam proteger os “defensores do povo”.
Por segurança, parei. E a cantilena continuou.
”Quem não votar na
Dilma, perderá a Bolsa-Família”
A cantilena se repetia.
O Brasil que quase ninguém vê, o Brasil das funduras.
E lá, sendo praticado uma espécie de sub-leninismo tropical,
ou um “maquiavelismo do sertão”.
Era essa gente que iria “libertar” o povo brasileiro.
Estava cansado de tanta traição.
Este era o amor e a compaixão que um partido dito libertador tratava um povo tão humilde.
Conversei com pessoas anônimas, sertanejos, gente simples - que Glauber tanto amava.
Este era o amor e a compaixão que um partido dito libertador tratava um povo tão humilde.
Conversei com pessoas anônimas, sertanejos, gente simples - que Glauber tanto amava.
- Se a gente não votar ‘neles’, vamos perder a Bolsa.
Outro disse: “Eu vou votar na mulher do Lula”.
Com este sertanejo conversei mais. Para ele, DILMA ERA MULHER DO LULA MESMO - esposa, consorte.
Olhei a feira, senti o calor, tanta gente, e fui andando entre as barracas e pensando nos meus sonhos de juventude. E lembrei-me de tantos que lutaram ou morreram, honradamente, defendendo seus princípios, sem enganar, como o meu amigo Luiz Travassos, Honestino Guimarães, Stuart Angel e tantos outros.
Percebi que não havia qualquer respeito ou compaixão, que essa gente – perdoem a ingenuidade – não amava o povo, não queria transformação alguma. Tais pessoas queriam apenas se dar bem.
Outro disse: “Eu vou votar na mulher do Lula”.
Com este sertanejo conversei mais. Para ele, DILMA ERA MULHER DO LULA MESMO - esposa, consorte.
Olhei a feira, senti o calor, tanta gente, e fui andando entre as barracas e pensando nos meus sonhos de juventude. E lembrei-me de tantos que lutaram ou morreram, honradamente, defendendo seus princípios, sem enganar, como o meu amigo Luiz Travassos, Honestino Guimarães, Stuart Angel e tantos outros.
Percebi que não havia qualquer respeito ou compaixão, que essa gente – perdoem a ingenuidade – não amava o povo, não queria transformação alguma. Tais pessoas queriam apenas se dar bem.
Era a tomada do poder a qualquer custo, pegar “bocas”,
aparelhar todo o Estado, com uma incrível compulsão pela mentira.
Quando vejo hoje tais pessoas no poder, deslumbradas,
implantando uma república de cleptocratas, tendo a mentira como arma,
subestimando a nossa inteligência, usando um linguajar (pelas transcrições de
conversas autorizadas pela Justiça) de lupanar (pedindo perdão aos donos de
bordel), fazendo as mais tenebrosas transações, só posso dizer: - Que tristeza!
Um socialismo com empreiteiras: será este o grande sonho?
Um socialismo com empreiteiras: será este o grande sonho?
Não, não mudei de lado. Foram “eles” que mudaram. Se eles
mudaram, rasgando qualquer princípio ético, não podem obrigar-nos a seguir o
mesmo caminho.
Ainda ressoa nos meus ouvidos o locutor e o seu alto
falante: “Quem não votar na Dilma, perderá a Bolsa-Família”.
Mas – relevem a pompa – a gente não perdeu os princípios.
Alguns me chamaram de
“moralista”. Pode ser. Mas não quebraram a nossa espinha dorsal – se não quebraram
na OBAN, nos meses passados no DOPS, não mais quebrarão.
O couro está mais duro (para as pancadas).
Só peço: sejam
mais dialéticos, leiam mais e deixem o fundamentalismo redutor, o maniqueísmo
mesquinho.
E lembrem-se. Ladrão é ladrão Não tem ladrão de “direita” ou de “esquerda”. É só ladrão!
E lembrem-se. Ladrão é ladrão Não tem ladrão de “direita” ou de “esquerda”. É só ladrão!
(Brasília, 18 de março de 2016)
Comentário:
Ouvi essa história contada na época pelo próprio Emanuel, meu Tio Tadeu. Eu e meu pai Paulo ouvimos novamente esta história na tarde do dia 16 pp, dia da divulgação do conteúdo venal, mesquinho, nefasto, nada republicano, amoral, sexista e podre das conversas telefônicas do 'companheiro ' Lula, que já mereceu meus votos.
Ouvi essa história contada na época pelo próprio Emanuel, meu Tio Tadeu. Eu e meu pai Paulo ouvimos novamente esta história na tarde do dia 16 pp, dia da divulgação do conteúdo venal, mesquinho, nefasto, nada republicano, amoral, sexista e podre das conversas telefônicas do 'companheiro ' Lula, que já mereceu meus votos.
O texto é o retrato e as gravações a trilha sonora desse festim político diabólico, promovido por essa Nomenklatura tupiniquim movida a pixulecos, rapadura corporativa, mentiras abundantes, sórdido cinismo e muito Romané Contè correndo no rio seco do agreste como um leninismo cachaceiro. São minúsculos, Emanuel. Invisíveis, comparados aos que tiveram pendurado o próprio couro no varal da ditadura em nome de um ideal, mas sem perder a decência, a vergonha.
Abraço do teu sobrinho e amigo, Paulinho.
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