sexta-feira, 22 de abril de 2016

BARQUEIRO


Por Emanuel Medeiros Vieira
 Em memória do meu amigo Air Dias
Quem não se contradiz/não diz/radicalmente sério/só o cemitério
(Sebastião Uchoa Leite– 1935-2003)
 
 O barqueiro Caronte leva-me pelas águas do rio Estige.

Mas para onde?
Sou eu?
Não: aqui – nesta terra – não mais estou.
Não “sou mais” – já fui, agora  é “passado”.
Quem fui eu lá trás?
E ele rema.
(Caronte, Caronte)
Meu destino é o Hades (filho de Cronos e Réia)?
Sim, o Tempo está entranhado ­ nestas palavras, na minha vida, em todas as existências – e como  saberemos quanto ele me (nos) concede?
Há prêmios, castigos ou é apenas o Nada?
Retorno ao pó inelutável.
Toda esta luta valeu?
Quem saberá?
Mas, romanticamente, quero crer que sim – houve um sentido.
A memória já pertence aos que ficaram – não mais a mim.
E meus mortos abanam para mim..
Tento sorrir: “Aguardem-me”.
(Brasília, 22 de abril de 2016)

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