quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Gerente da CEF mantém jornalista em cárcere privado

   A situação é bizarra! 
   Aconteceu comigo na manhã de terça-feira, dia 28.

                                                                                  Momento que o Sr. Adélcio chamava a polícia
   
   Acordei com um certo gosto de Volga em maré vazante, na boca. Não era ressaca. A noite anterior tinha sido comportada. Algo me dizia que não deveria sair de casa. Ficar quieto, recolhido...mas atento.

   Vibrações...vibrações!

   Contrariando pressentimentos, saí de casa cedo e, logo que deu o horário regulamentar para abertura dos bancos, lá estava eu entrando na minha agência da Caixa Econômica, Ag. Anita Garibaldi, no centro de Florianópolis. Fui pedir informações sobre um repasse eletrônico, feito pelo google, para a minha conta no dia 22, e que não apareceu no meu extrato até hoje.  
Entrei na agência por volta das 10:40h. Peguei a senha nº36 e me encaminhei para o atendimento na sobre loja. Ao descer as escadas já pressenti...o inferno de Dante!
   Sala lotada, senhoras de "meia idade" se abanando, mães impacientes com filhos no colo e idosos reclamando do tempo de espera. Apenas dois funcionários públicos atendendo. Reclamação geral, tinha gente há mais de 30 minutos sem atendimento.

   Como não tenho saúde para filas, desisti e  subi para o salão de entrada. Quase saí, parei, olhei escutei...o quadro era mais grave do que eu imaginava. Os caixas eletrônicos do lado de fora estavam todos fora do ar. Uma segurança magra, pequena e armada, da Ondrepsb, isolava a área e avisava incisivamente - com o polegar direito virado para baixo - que nada estava funcionando. 

   Dentro do saguão, os comentários eram: "o sistema está fora do ar", "o sistema caiu". A palavra sistema exerce uma atração irresistível nas pessoas com pouco conhecimento de informática...eu acho, pois é repetida à exaustão!

   Uma senhora idosa, caminhava na frente dos clientes, que lotavam as cadeiras de espera, com a senha na mão dizendo que já estava ali há mais de 30 minutos e não tinha sido atendida.

   - Não existe uma lei que diz que a espera no banco deve ser de no máximo 20 minutos. Onde se denuncia isso?, falou subindo o tom da voz.

- No Procon, disse outra mulher. - A senhora vê aí na senha o horário impresso e comprova o tempo que ficou esperando.

- Mas não tem horário impresso, disse a idosa conferindo o ticket. 

- O sistema está desligado!!!!!!, disse outro cliente apontando para aquele monitor que apita quando chama o próximo número. 
  Era o caos!


   A situação era tão inusitada que resolvi fazer uma foto geral do ambiente para, mais tarde, ilustrar uma matéria sobre o péssimo atendimento do serviço bancário público. Nesse momento poucos funcionários estavam na agência. Se aproximava da hora do almoço. Eles somem!

   Fiz a foto e resolvi ir embora. Desisti de ser atendido. Ao tentar passar pela porta giratória...trunk...trunk! O guardinha atrás de mim, toda vez que eu tentava sair, usando todo o poder da sua geringonça eletrônica na mão, apertava um botão e a porta trancava. Me impedia de sair.

- Por favor, o senhor pode liberar a porta?, perguntei.


- O gerente já está vindo aí. O senhor tem que aguardar. Disse o magrão com colete à prova de bala, revólver e mais um monte de enfeites militares que lembrava uma Tartaruga Ninja desidratada.

   Aí percebi que a bronquite era comigo. Eu havia sido preso. Impedido de sair da agência onde tenho conta há mais de 10 anos. 
   A agente que impedia as pessoas de acercarem-se das caixas eletrônicas no saguão, agora estava dentro da agência e, frenética, subia e descia a escada que levava ao superior gabinete do Sr. Adélcio, o Gerente Geral da Agência Anita Garibaldi da Caixa Econômica Federal.

   Logo em seguida aparece o gerente Adélcio, com seu crachá pendurado no pescoço e o telefone celular nas orelhas.

   Com o tom da voz elevada bem acima dos seus 1,67 metros, o Gerente Geral me interpela dizendo:
- O senhor não pode filmar aqui dentro! Vai ter que apagar tudo que filmou no seu celular, estou chamando a polícia. 

- Você está me prendendo dentro da agência?, perguntei por trás da câmera do celular que a esta hora já registrava as andanças nervosas do Sr. Adélcio, que virava as costas sem responder e fazia um primeiro contato com a polícia.

- Por favor, preciso de uma viatura da polícia urgente aqui na agência da caixa no ARS. Tem um cidadão aqui que está perturbando a ordem.

   Não acreditei no que estava ouvindo. Achei a situação bizarra. Jamais passou pela minha cabeça que cargos de gerência geral de um banco poderiam ser ocupados por pessoas de tão baixa estatura cultural, totalmente despreparada para o trato com o público onde a truculência substitui a educação e aflora o autoritarismo dos imbecis.

   Pois bem, era isso que estava presenciando aos 64 anos. Depois de passar por todo tipo de experiências autoritárias e constrangedoras no período da ditadura militar quando andei por prisões de todo o tipo, aquilo que presenciava, para mim, era café pequeno. Apenas assisti com olhar de quem está em um circo numa apresentação de palhaços. Ri da situação e fui sentar junto com os idosos que impacientemente esperavam pelo atendimento dos subordinados do Sr. Adélcio, Gerente Geral da Caixa Econômica Federal, agência Anita Garibaldi, centro de Florianópolis.

   A polícia não chegava, o tempo passava e os comentários cada vez ficavam mais engraçados. 
 - O atendimento da polícia é mais demorado que o da Caixa Econômica, pelo jeito! Disse uma impaciente senhora, há mais de 1 hora esperando ser atendida.

   De costas voltadas para os clientes, mãos pegadas nas costas, na altura dos rins, o Sr. Adélcio estava duro, ansioso, esperando a chegada da cavalaria. 
   Não imagino o que pensava o Sr. Adélcio naquele momento. Sendo observado e ridicularizado por aquele monte de gente depois de dar o seu showzinho de autoritarismo, devia imaginar a minha prisão como desfecho por tão efetiva atitude em defesa do patrimônio público do qual é o Gerente Geral.


   A chegada do meu advogado e de dois tranquilos e educados policiais teve um efeito devastador na fisionomia do Sr. Adélcio. O rosto sério e autoritário derreteu feito sorvete e passou a ser de preocupação. Caiu na real.

   Me identifiquei como jornalista para os policiais e perguntei qual seria o procedimento. Ao perguntar se seria levado para a 1º DP, os policiais riram, denunciando o ridículo da situação.

   Fizeram um boletim de ocorrência com depoimento meu e do Sr. Adélcio, em um tablet, se desculparam pelo atraso e pela pressa com que saíam, pois tinha outra ocorrência para atender. Tipo, tem mais coisa mais importante para fazer do que atender um gerente de banco despreparado para tratar com a população.

   Diante de uma situação de caos dentro da sua agência, o Sr. Adélcio perdeu o controle emocional e cometeu crimes de constrangimento e cárcere privado, pelos quais responderá perante a Justiça.


   Para mim, além do constrangimento e perda de tempo, a situação rendeu esta bela matéria, bem melhor do que a que eu havia imaginado.

   É, Sr. Adélcio, Gerente Geral da Caixa Econômica Federal, o sistema caiu!

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