sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Figura1 

CARTA AOS LEITORES DE UM POETA

Por Olsen Jr.

(Para Carlos Damião Werner Martins)

Soca

Após alguns dias ausente para tratar de assuntos particulares, me vejo logo às voltas com um tiroteio de opiniões contraditórias sobre o céu e a terra e principalmente tudo o que há entre ambos.

Todo indivíduo que se propõe a emitir opinião sobre algo deveria antes se fazer a pergunta: “em que medida o que vou dizer acrescenta algo sobre o que já se conhece sobre o assunto?”. Isso evitaria muito hein-hein-hein paroquial e de baixa extração.

A medida de um texto é dada pelo que o autor escreve (vivência, história, talento e estilo) e também pelo que o leitor acrescenta ao que está lendo (vivência, história, sensibilidade e percepção)... Há situações em que não vale a pena insistir: com o escritor ou com o leitor. No primeiro caso, é simples, você não gosta, deixa-o de lado; no segundo, cada um deve procurar a obra que tenha a medida que sua própria compreensão possibilita. Pode levar determinado tempo, mas é uma providência honesta e útil.

Quando se escreve, parte-se sempre de uma realidade. Essa realidade pode ser alheia ao leitor. O que possibilita as ilações daí decorrentes. É o leitor exercitando a sua liberdade. Não quer dizer que o que ele deduz represente a verdade, mas é o que a sua experiência permite criar, a “sua verdade”, portanto. Não deve haver imposições, mas constatações. Gostamos de nos identificar com o que lemos. Separamos o que nos diz mais daquilo que nos diz menos. A diferença entre uma e outra empresta a certeza (para o leitor) de que o que decodificou valeu a pena ou não. Se o escritor escreve com liberdade, na escolha dos temas e no tratamento dado a ele, o mesmo ocorre com o leitor, no sentido de fazer a sua escolha e até a rejeitar a obra lida.

O escritor Ernest Hemingway afirmava que “A dignidade do movimento de um iceberg é devida a que só um oitavo dele está acima da superfície da água”. O leitor ideal seria aquele capaz de descobrir essa outra parte, aquela que não está visível. Nesse sentido é que uma obra pode ser enriquecida até revelando possibilidades que o próprio autor desconhecia.

A grande arte universaliza as circunstâncias onde está inserida.

Outro dia usei uma blague do Paulo Francis para explicar alguns descaminhos que a nossa origem portuguesa possibilitou (desconfiança, burocracia) e já insinuaram que sou preconceituoso... Lembrei do comediante William C. Fields “Sou livre de qualquer preconceito. Odeio todo mundo, indistintamente”... Well, a blague é a maneira bem humorada de chamar a atenção sobre um assunto. Cá entre nós, minhas duas avós são descendentes de portugueses, minha mãe também, e daí? Português, italiano, belga, sueco, godo, visigodo, tolteco-maia, tupi-guarani... O importante não é a nacionalidade da qual você deriva ou de onde você se originou, mas o que faz para mudar o lugar onde está até porque ninguém sabe para onde vamos (parodiando o poeta português, Sidônio Muralha – de onde o Antônio Maria copiou a ideia “... Não sei para onde vou, só sei que não vou por aí”) e onde certamente a etnia não terá a menor importância.

Vai levar muito tempo ainda para aprendermos que o futebol é só um esporte, que uma seita é o último refúgio dos sem imaginação, que todo o fanático é um débil mental e principalmente, o charme de uma democracia reside em nossa capacidade de aceitar as diferenças, e isso vale para tudo.

A sociedade cresce com suas contradições, mas para isso é preciso respeitar o que é diferente, aliás, falando nisso, longe de mim ser igual aos meus semelhantes.

Até a próxima, com humor e com afeto!

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