terça-feira, 15 de setembro de 2009

Portinhol de fronteira no seu estado mais puro

Recebi esta "obra prima" de uma amiga de Artigas (Uruguay). Uma carta escrita em portinhol (mistura de português com español) que além de revelar de forma original esse "dialeto" fronteiriço mostra como se dão as relações pessoais, familiares e culturais desta gente que habita a fronteira, um lugar tão peculiar.

Pintura do argentino Ricardo Carpani para ilustrar "El gáucho Martin Fierro"

Carta de uma mãe ao filho que está estudando na cidade

Meu fio:
Ispero que tellas bein nus istudo. Te conto que tua irmán troche as nota du liceu. Veio bacho iñ idioma ispañol. In dibujo ta mas u menus, purque ela e disprulija. Mas u resto ta tudo bein. U teu irmáum tambeim troche as nota da isncola. Ta cum bueno muy bueno, mas teiñ que miorá a cunduta purque ele charla muinto. Ah, a tua irman impesó cumputasáum.

Onte de noite fui na Turil da Terminal intregá tua cacha de incomienda. Como eu naum tiña cinta atei ela cum piola, purque a tua irmán usó a cinta pruma lámina de dibujo. U otro día eu mandei ela o 300 para comprá umas cosiña para te mandá. Te mando tijolos, rapadura de coco, garotos, um pote de mayonesa, uma mostasa, meio kilo de pancho,fariña, umas milanesa de frango y de peye, purque naum tiña de carne na carnicería.

Pasei na panaderia y comprei umas vovó sentada, ums ojito y uma bolsiña de curasán (doce y salado). Vai tambein uma latiña de ervía y otra de choclo, yunto cum umas sanaoria, umas remolacha, umas papa y duas cabesa de haio pra ti fasé um tuco para cume cumé fidéu muñita.

Te mando tambéin teu buso rojo, u teu pantaláum negro y tua campera de corderito que tu te esqueceste (oia que u cierre da campera ta roto, mas tu só compra uma agúia y um fiu y cose). Iñ otro táper te mando feijoada pronta,e so calentá y cumé. Ispero que te de pra semana. U diñero ta nu sobre que ta dentro du bolsillo du pantaláum.

Te sigo contando: u jueves fumo pra u Pintadinho visitá teus tiu. Cuando cheguemo u teu tiu tava pintando us enano y tua tia tava oiando u informativo na tv globo. Desayunemo umas bolachas cum doce de goiabada y leite de verdade. Nu meio día almusemo canyica de milio con yarque, y de postre tina doce de abóbra y arros cum pesco. Sestiemo um rato, mas eu me acordei cum u ruido da caturrita, purque a jaula dela tava colgada au lado da miña ventana. Depós saimo a camiñá. Como tiña chuvido, tava tudo moiado, y eu risbaléi na iscalera du frente, me di um tombo y me lastiméi u codo. Entonces tiverum que me levá pru povo pra emergencia. Sorte que eu tiña u carné de salú na cartera. Cuando intrei, u dotor fes eu me subí na camilla y me sacó uma placa du codo, purque eu dise que me duía muinto. Mas menus mal que naum era nada, y ele dice que si seguía me duendo eu tomase umas pastilla que ele mandó.
Cuando saí du ospital fui toma uma coca cola y cumé um chorizito al pan nu treiler de infrente purque eu tava cum fome. Depós que cumí, fui pra parada de ônibus na calle de infrente. U cotua pra u zorriya pasó insiguida. Eu tiña só um billete de mil peso, y naum tiña mas cambio. Menus mal que u chofer era cuñecido y dise que eu pague depós. Fui charlando cum ele todo u camiño.
Cuando cheguei , u teu tiu tava cum a manga moiando u céspe y u arbolito que ta perto dus enano. Tua tia tava fasendo um rimiyido de feyáum miudo para cená. Cumimo y fumo se deitá pra oiá televisáum. Tava dando uma película de peléia. Depós me deu fome y eu peguéi uma cucharita y um platillo y me seví um pedaso de torta, du cumpliano du teu primo que foi u martes, que tava na heladera. Me deu dor de barriga, y me toméi uma tasa de cha de marcela. Depós diso mioréi.
Pur aquí temo tudo beim. U Siñoreli sigue preso, pobrizinio, nos votaremos nele.Tu no vai vota nu sujo du Mujica.Tua vó te manda saludos y dis que ta te istrañando. Te isperemo pras vacaciones de julio. Vais me incontrá cambiada, purque ontonte fui na peluquería y me fis uma planchita.

Um beyo:
Mamá

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