por Emanuel Medeiros Vieira
Ouvindo a “Oração de São Francisco”, com
Fagner, e “Mi Viejo”, com Piero
Segmentos da
minha geração (falo da que viveu os anos de chumbo), que combateu a ditadura
militar, amavam e escutavam (ou melhor, amam e ainda escutam) Geraldo Vandré
(1935), cujo versos condoreiros
correspondiam às nossas lutas e aos nossos sonhos.
Ainda hoje,
acho que ele está para a nossa música, como Castro Alves está para a poesia
brasileira.
E pelo
maniqueísmo imposto pela ditadura (ou por falta de lucidez mesmo), deixamos de
lado outros gêneros musicais – queríamos apenas as “músicas de protesto”.
(E claro,
os mestres dos mestres: Beethoven,
Mozart e Bach.)
As outras eram “alienadas”, como se dizia
naqueles tempos de tanta utopia.
Deixamos de
lado – por radicalismo, por raiva da ditadura, ou por falta de percepção
histórica – outros gêneros.
E também a
chamada “Jovem Guarda”, com Erasmo Carlos (1941), Vanderléa (1946), Erasmo
Carlos (1941), Roberto Carlos (1941), Martinha (1949), e também outros cantores
como Waldick Soriano (1933-2008) – a respeito de quem, Patrícia Pillar (1964)
dirigiu um belo filme –, Wando (1945-2012), Altemar Dutra (1940-1983) e outros.
Foi uma
injustiça. Com a morte, vitimado pelo câncer, de Jerry Adriani (1947-2017),
queria escrever essas modestas palavras.
De gratidão, por teres alegrado tantos
corações, caro Jerry Adriani, como os outros citados.
Tudo isso,
revela que a gente pode e dever amar vários gêneros musicais.
Uma vez, dois queridos amigos discutiam
severamente a respeito da validade da chamada música popular e da erudita.
Cada um defendia a sua preferência.
E na hora entendi, por todo o sempre, que
poderíamos amar e reverenciar Mozart, como Cartola. Tal aprendizado ficou no meu coração.
E queria te
dizer: muito obrigado, Jerry Adriani! Descansa em paz!*
(Peço que a
revisão dos meus conceitos seja feita por duas pessoas de outra geração: mais
que sobrinhos, são grandes amigos, e que conhecem e amam a música profundamente
(e incluo também outro sobrinho por
afinidade: Júlio César Vieira da Silva, Paulo L. Vieira e Nicolau Varela.)
*Queria relembrar três nomes, que
engrandeceram as artes cênicas e o humanismo no Brasil, e que também morreram
(muito cedo– mostrando que a vida não é justa, é claro...) de câncer: Flávio
Rangel, aos 58 anos; (Oduvaldo Vianna Filho), aos 38, e Paulo Pontes, aos 36.
(Salvador,
abril de 2017)
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