sexta-feira, 7 de abril de 2017

O jornalismo, aquela velha prostituta


   
    by Fábio Pannunzio
    O modelo de jornalismo que conhecemos hoje está em declínio. O incrível é que muitos jornalistas vibram com isso. Ele se encontra na posição da mulher adúltera da Bíblia.    Falta-lhe apenas o salvador para lembrar à turba que a primeira pedrada deve ser disferida por alguém sem pecados.
    As pedras voam de todos os lados. Nas ruas, repórteres são acossados pela multidão imaculada. Impedidos de realizar a cobertura das grandes mobilizações populares, são logo culpados pela omissão da imprensa, sempre confundida com um partido político.
   Quando, em nome do dever de informar, resolvem correr o risco do linchamento iminente, ali sempre haverá um policial com a arma apontada para um fotógrafo cujo olho será dilacerado não por um pedregulho, mas por uma bala de borracha.
    E se o tiro falhar, há de haver muito bem posicionado um anarquista com um rojão adredemente apontado para a nuca de um cinegrafista.
   Quando, em momento menos conturbados, se safam da refrega das ruas, jornalistas são logo apontados como causa  das desgraças todas que andam a destruir o País. Confunde-se a mensagem com os mensageiros.
   É deles a culpa pelas más notícias produzidas no campo da economia, bem como deles também é a dor infligida aos políticos corruptos e seus agremiações cleptocratas pela divulgação dos escândalos que não cansam de ocupar o espaço das manchetes.
   Para o jornalismo, o tempo não passa. Os erros do passado, escancarados ou não, reconhecidos ou não, jamais prescrevem. O jornal tal era bancado pelo Barão de Ladário e fez um editorial contra a Proclamação da Repúbica. Quebrem-lhe as rotativas. A TV XPTO foi contra a volta de Dom joão Sexto a Portugal. Empalem seus repórteres!
   Para um parte da opinião pública, as empresas de comunicação deveriam falir como forma de punição por tudo o que houve de errado desde que alguém gritou fiat lux. Em seu lugar, oferece-se a possibilidade da comunicação direta, sem mediação, da fonte para a fonte e do público para o público.
   Emissoras de televisão seriam substituídas com vantagem por youtubers adolescentes e os blogues, que matariam os jornalões, ofereceriam notícias frescas e bem apuradas a pessoas cada vez mais seletivas e exigentes.
   Não importa que o jornalismo possa ser definido como um arcabouço de técnicas embalado por um conjunto de valores e normas éticas que o jornalista de  verdade defende com o sacrifício dos proventos — se nencessário, com o custo da própria vida, como fez Vladimir Herzog. Tudo isso está em desuso.
   Tudo bem. Os argumentos são razoáveis e a tecnologia já possibilita a construção desse novo modelo comunicacional. A imprensa pecou no passado e continua pecando no presente. É possível inferir que continuará pecando no futuro, o que justificaria a necessidade premente de sua eliminação.
   O desmonte, aliás, já começou. A profissão foi desregulamentada. Qualquer um pode se arvorar jornalista e sair por aí apregoando a sua visão de mundo. Afinal, se a imprensa sempre distorceu fatos, se ela sempre serviu genuflexa ao pensamento hegemônico, que mal pode haver ao estatuir-se como padrão o jornalismo individual fenomenológico ?
   É isso. Punam-se os jornalistas. Elimine-se a comunicação de massa. Extinguam-se os jornais e as revistas. Calem-se as rádios e emissoras de televisão. Decapitem-se os jornalistas. Condenem à fome e à misária seus descendentes. Salguem os terrenos onde se deitam as redações.
   Por fim, revogue-se do Art. 5ͦ da Constituição da República o Inciso XIV — aquele que diz que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.

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