por Carlos Nina*
O
que o País está vivendo é fruto da educação que temos.
Um
dos delatores da Operação Lava-Jato, que está expondo um esquema fantástico de
corrupção, foi explícito: é cultural.
PC
Farias, famoso tesoureiro da campanha do ex-Presidente Fernando Collor, ouvido
em CPI no Congresso Nacional, já fizera a revelação daquilo que todos sabiam – e
continuam sabendo: negar a corrupção no processo eleitoral é hipocrisia.
Outro
dos delatores da mesma Operação Lava-Jato confirmou serenamente essa afirmação -
que ninguém se atreveu a negar, por ser tão óbvia -, apesar do discurso de
todos, que transforma a Justiça Eleitoral em cúmplice. Respondem, sempre, em
uníssono, partidos e candidatos, eleitos ou não:
-
Todas as doações recebidas foram lícitas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Chegamos,
assim, a uma situação em que não sobra ninguém. Cada esperança se transforma em
desilusão.
São
todos honestíssimos. Um mais do que outro. Como se pudesse haver gradação de
honestidade. Até agora há apenas um que admite não ser o mais e proclama: Só
Cristo foi mais honesto do que eu!
Na
verdade, são todos inocentes, porque as delações não provam nada e, mais do que
honestos, a maioria deles é muito mesmo é esperta e dos bilhões desviados dos
cofres públicos só voltarão alguns milhões - bagatela diante do tamanho do rombo
causado no dinheiro suado pago pelos brasileiros através de encargos de toda
natureza.
Lembra-me
uma ponderação feita por meu irmão, Carlos Alberto, também advogado, sobre as
polêmicas em torno da situação nacional. Ex-Gerente de várias agências da Caixa
Econômica Federal, da qual foi ex-Superintendente no Maranhão e no Piauí, administrador
exemplar, com a visão de sua experiência, observou que, além do prejuízo causado pelos desvios
das verbas, há outro de igual monta, que é o decorrente da própria gestão
pública. Não há a mínima preocupação em gerir as instituições públicas de modo a
fazer com que seus recursos sejam aplicados da melhor forma. Descaso,
incompetência e má-fé levaram e continuam levando instituições e serviços
públicos ao caos.
Sucateados,
perdendo servidores qualificados e empanturrados com apadrinhados incompetentes,
mal educados e corruptores vorazes, os serviços públicos estão em rota de
autodestruição. A engrenagem da corrupção que todos sabiam existir está revelada
friamente e não há nenhuma perspectiva de que seja extinta ou de que, mesmo
atingida pelas operações que têm levado colarinhos brancos para atrás das
grades, não estará presente nas próximas eleições, nem esteja extinta em todos
os escalões, níveis e esferas de poder.
São
bodes expiatórios consumidos em sacrifício para sobrevivência dos mais espertos
e da própria engrenagem. Mas mesmo os condenados não são jogados nas celas
comuns onde culpados e inocentes, investigados e denunciados, suspeitos e
condenados cumprem indistintamente a mesma pena da confinação em espaços onde
não há o mínimo de higiene para o animal mais imundo.
Ah!
Mas eles merecem. São criminosos, ainda que alguns sejam apenas suspeitos.
E
esses que usam cargos públicos para desviar em benefício próprio recursos que a
população paga para ter boas escolas, hospitais, saneamento básico, água e
esgoto encanados, ruas e estradas pavimentadas, por que têm o beneplácito dos
justiceiros?
Quanto
tempo durará esse estertor? O País conseguirá sobreviver até as próximas
eleições? Para eleger quem? Os mesmos? Sem caixa dois, não dá.
Por
isso a defesa de um dos investigados é simplória: todo mundo faz isso, há muito
tempo!
Como
são as raposas que estão tomando conta do galinheiro, não será surpresa se os
crimes “necessários” às eleições e reeleições deixarem o rol da legislação
penal, violando o conceito de direito e de justiça.
Também
não será surpresa se a população brasileira, que vem pagando o alto custo do
sacrifício, perdendo seus empregos, sendo barrada nas portas dos hospitais, sem
segurança para andar nas ruas ou simplesmente sentar à porta de suas casas, for
levada a usar o direito que lhes confere a Declaração Universal dos Direitos do
Homem, em seu preâmbulo: “é essencial a proteção dos direitos do Homem através
de um regime de direito, para que o Homem não seja compelido, em supremo
recurso, à revolta contra a tirania e a opressão.”
Ou,
o que será pior, a excrescência da mentira e do cinismo usar esse viés para
tentar levar o País a refazer a história soviética do início do século
passado.
O País está nas mãos de todos nós.
*Advogado. Ex-Promotor de Justiça e Magistrado aposentado.
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