Por Edison da Silva Jardim Filho
Debaixo do maior símbolo e cartão postal do Estado de Santa Catarina: a ponte Hercílio Luz, só pode ter sido enterrada uma caveira de burro tão grande quanto a de um elefante, com praga muito do bem rogada. Quando digo isso, não estou me referindo à possibilidade- real, diga-se de passagem- de a velha e cansada ponte vir a despencar, por incompetência e desleixo principalmente dos dois governos de Luiz Henrique da Silveira (mas também do municipal). A ponte Hercílio Luz, sempre reverenciada na memória e no sentimento dos florianopolitanos que, um dia, chegaram a transitar sobre ela.
A praga de que falo ecoa, com estridência, a seguinte maldição: Florianópolis não terá um prefeito à altura de enfrentar os enormes desafios que se lhe apresentarão nos bicudos tempos pós-modernos. Agora, já não interessa saber quem enterrou a tal caveira de burro. Se foi coisa do navegador francês Binot Paulmier de Gonneville, provavelmente o primeiro a atingir a costa catarinense, em 1504. Ou de um daqueles navegadores portugueses e espanhóis que singraram por estes mares e/ou aqui aportaram, durante a primeira metade do século XVI, para abastecer-se de víveres e água, e, depois, seguir rumo à Bacia do Rio da Prata: Nuno Manuel, Juan Diaz Solís, Cristóvão Jacques ou Sebastião Caboto, dentre outros. Também não é descartável, de antemão, que tenha sido obra de algum operário que, entre 1922 e 1926, participou da construção da ponte Hercílio Luz. Aproveitando-se da colocação dos seus pilares, mergulhou e...puft!, enterrou a caveira de burro. Mas, pensando bem, pelo tamanho da maldade, talvez esta não devesse ser atribuída a um simples mortal, e, sim, a uma das bruxas aliadas do demônio ou do anjo Lúcifer, tão macabramente descritas por Franklin Cascaes, com base em relatos de nativos descendentes dos imigrantes açorianos, cuja primeira leva chegou na Ilha de Santa Catarina no ano de 1748.
Antes que o leitor ou leitora destas mal traçadas linhas rechace, de supetão, a hipótese “caveira de burro”, peço-lhe, se residente em Florianópolis há um bom tempo, que tente, mentalmente, vestir cada um dos seus prefeitos do largo período que vier a delimitar, no figurino intelectual e moral de um (serei realista) “semi-estadista”. Leio no “Novo Dicionário Aurélio” o significado do vocábulo “estadista”: “Pessoa de atuação notável nos negócios políticos e na administração de um país”. Não só um país merece e precisa, de vez em quando, de um estadista, mas também um estado ou um município, guardadas as devidas proporções, é claro. As características de administrador público que eu imagino modelarem a figura a que chamei, resignadamente, de “semi-estadista”, consistiriam de um profissional intelectualizado- então não há como ser um político-, alguém ponderado, estudioso, respeitado, vivido, sensível, competente, decidido e honesto.
Não tenho a menor dúvida de que o futuro prefeito deveria ter um perfil próximo do acima traçado, sem o que não poderá fazer a constatação óbvia (a cidade é limitada fisicamente: a sua maior parte está situada na Ilha de Santa Catarina) e a pergunta inadiável (será que Florianópolis deve buscar o desenvolvimento econômico da forma como vem se desenhando?), balizado pela complexidade das duas questões mais tormentosas hoje na capital do Estado: a preservação do seu belo e frágil meio ambiente, e a (falta de) mobilidade urbana.
Mas, como repetitivo desenlace da triste sina praguejada por um ser desnaturado- de carne e osso ou, mais provavelmente, com as vísceras de vento sul-, no horizonte da prefeitura de Florianópolis só avisto políticos profissionais ou no caminho para sê-lo, sem muitas daquelas qualidades pessoais que este momento de tantas e profundas dúvidas e incertezas requer. É quando me dou conta da necessidade de ser encontrada, no Congresso Nacional, uma fórmula que viabilize a inclusão da “candidatura avulsa” na reforma política.
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