Por Janer Cristaldo
Em meus dias de universidade, li um estudo interessante de epistemologia sobre a interferência humana no conceito de acaso, de autoria de dois pensadores franceses, cujos nomes não mais lembro. Acaso é o imprevisível. Suponhamos que um belo dia se arma uma tempestade em Paris, fenômeno perfeitamente previsível pelos serviços de meteorologia. A tempestade produz um vendaval, coisa também previsível. O vendaval derruba uma telha de um telhado, algo também bastante previsível. A telha cai sobre uma pedra na calçada. Não falamos de acaso.
Mas digamos que M. Dupont estava com dor de dente e marcou no dia da tempestade uma consulta com um dentista. Providência mais do que previsível, necessária. M. Dupont vai a pé, já que seu dentista não fica longe de sua casa. Ao passar pelo prédio que foi destelhado, a telha cai sobre sua cabeça. Aí falamos em acaso. É a interferência imprevisível de duas séries de fenômenos, estes perfeitamente previsíveis. Mas depende da presença do ser humano. Sem ser humano no meio, não há acaso.
Costumo falar do único deus em que creio, o deus Acaso. Leitora me pergunta que deus é esse. É o deus do qual falei acima, o que derruba telhas na cabeça dos transeuntes. É o deus que tem regido minha vida. É deus geralmente generoso, que trata bem os que nele crêem. Se um dia saí das grotas do Upamaruty e Ponche Verde a correr mundo e hoje vivo em São Paulo, tudo é obra de sua vontade imperiosa.
Sua primeira ação em minha vida ocorreu há mais de meio século. Já contei, conto de novo. Eu tinha dez anos e estudava numa escola rural de Três Vendas, distrito de Dom Pedrito, situada justo na Linha Divisória. De um lado da estrada, Brasil. Do outro, o Uruguai. No quinto ano primário, com escassas noções de história ou geografia, fomos informados que professoras "da cidade" viriam fiscalizar as provas. Pânico total de nossas professoras.
Leia mais que vale. Beba na fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário