Por Edison da Silva Jardim Filho
A prova mais cabal de que a política e a democracia brasileiras- como se nos apresentam no momento- chegaram a uma situação de “final de linha”, é que, praticamente, nenhum político, hoje, quer fazer oposição frontal a qualquer governo, nos três níveis federativos.
José Serra recebeu, no segundo turno da eleição presidencial de outubro do ano passado, exatos 43.711.162 votos. Foram 2.452.594 votos brancos e 4.689.397 votos nulos. Quem não escolhe ninguém ou anula o seu voto está, no mínimo, protestando contra o governo, e, no máximo, “metralhando” o sistema político e de poder sob o qual vive. E, para coroar, o supremo desprezo aos candidatos, aos políticos em geral e às agremiações partidárias, como agem e funcionam no Brasil, demonstrado por nada mais nada menos do que 29.196.864 eleitores, ao não se dignarem a comparecer às seções eleitorais para votar. Pode existir maior contrariedade do que você, simplesmente, ignorar alguém ou, no caso, uma instituição como as eleições, que se traduzem no momento culminante de uma democracia? Muitos dirão que os mais de 29 milhões de eleitores, que preferiram descansar em casa ou desfrutar de um dia de lazer numa praia ou em outro lugar agradável, a cumprir com o seu mais importante dever cívico, só provam a altíssima despolitização e a baixíssima educação da população brasileira. Mas, parece-nos mais sustentável o raciocínio de que quem assim age numa eleição presidencial, mesmo inconscientemente ou extravasando a sua ignorância, no fundo, no fundo sempre estará protestando. A ignorância, ao mostrar-se, protesta diante dos que, podendo redimi-la, não o fazem. Pois bem: somando-se todos os votos acima mencionados, chega-se a 80.050.017 eleitores, que votaram contra o governo e o sistema, ou, em outras palavras, para não tangenciar o “subversivo”, foram votos oposicionistas. Para se ter uma noção da magnitude da sinalização que os eleitores brasileiros deram no segundo turno da última eleição presidencial, lembra-se que a presidente Dilma Rousseff obteve 55.752.483 votos.
O mais recente “papelão” na área do adesismo direto ou transversal ao governo da presidente Dilma Rousseff vem sendo protagonizado por Jorge Bornhausen, que está em vias de acompanhar o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, na fundação do PSD- Partido Social Democrático. Alguns fatos posicionados a seguir, justificam a catalogação dos movimentos de Jorge Bornhausen no papel aumentativo. Como presidente do PFL, no auge do escândalo do “mensalão” em 2005 e antevendo a possibilidade de o então presidente Lula ser derrotado nas eleições do ano seguinte, Jorge Bornhausen disse, referindo-se aos petistas: “Vamos nos livrar dessa raça por uns 30 anos.” Os militantes do PT, considerando a frase como demonstração de racismo, reagiram como nunca se viu antes ou depois em qualquer episódio do mesmo tipo na política brasileira, a ponto de espalharem, pelas avenidas de Brasília, cartazes com fotomontagem de Jorge Bornhausen vestido de uniforme nazista. Na reta final da campanha para o primeiro turno da última eleição presidencial, em comício realizado em Joinville, o presidente Lula afirmou: “Nós sabemos que os Bornhausen não podem vir disfarçados de cordeiros, já sabemos quem são eles. (...) Nós precisamos extirpar o DEM da política brasileira.” O então líder do DEM na Câmara dos Deputados, deputado Paulinho Bornhausen, retorquiu, em violentíssima nota oficial, que o presidente Lula “para pronunciar o nome dos Bornhausen teria que estar são e lavar a boca antes.” Tudo esquecido em nome do realismo e do “profissionalismo” políticos.
Quem quiser rir um pouco, deve acessar a entrevista com o governador Raimundo Colombo feita pelo jornalista Josias de Souza, postada em seu famoso blog no dia 21/04/11, sob o título: “Colombo confirma que cogita trocar o DEM pelo PSD”. Imagine a cara do governador Raimundo Colombo se esforçando, com os olhos quase fechados, para convencer que é o dono do seu nariz. “Vou ficar parado? Não dá.” “Vivo uma angústia pessoal.” “Estamos afinados (aludindo a Jorge Bornhausen). A decisão será conjunta.”
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