Por Armando José d’Acampora *
Muito me assusta os comentários sobre o nosso Hospital
Universitário , um Hospital de ponta, nas redes sociais. Estão julgando todos
os médicos no mesmo patamar. E este patamar é o mais baixo de todos. Isto não é
justo.
Tanto é assim que dos 275 médicos que trabalham no HU,
27, ou seja, 10 % estão listados pelas autoridades competentes. Mas, ainda assim,
não são réus. Estão sendo investigados e isto não dá o direito a ninguém de
considera-los culpados quando e ainda não foram devidamente julgados e
condenados.
Não tenho a ilusão de que todos os médicos sejam santos,
mas creio que a maioria cumpra suas funções com dedicação e esmero.
Penso que em todas as profissões há aqueles que não são
o trigo, são o joio. O problema que se apresenta, é separar o joio do trigo.
Se há alguns que não cumprem o que foi determinado por
contrato, que sejam devidamente punidos. Mas e os que cumprem? Por que tem que
carregar consigo a pecha de transgressores da Lei e da Ordem instituídas quando
assinaram o contrato?
Quando era garoto, meu pai me dizia que Médico, Padre e
Polícia, basta um para estragar toda a comunidade.
Ninguém acusa um Médico, acusa a medicina, a máfia de
branco, e todos entram no mesmo saco. Não é diferente com os Padres, pois
quando um comete um deslize, foi a Igreja quem cometeu. A mesma coisa com o
policial, não foi o Miguel Cervantes, foi a Polícia quem praticou a atrocidade.
Não importa a vida toda cheia de feitos heroicos, basta um deslize para que o
sujeito seja considerado marginal. Os chineses já diziam algo parecido.
Será que as pessoas já pararam para pensar que o Médico
é o único profissional que acompanha uma pessoa do antes de nascer até a morte?
Quem fará o pré natal de uma gestação e quem assinará o
atestado de óbito de uma pessoa? Só pode ser o Médico. Quando temos uma dor, a
quem procuramos? O Médico. Não importa se é madrugada, se está frio ou quente o
tempo, pois sempre achamos um Pronto Socorro que nos atenda, isto se não
tivermos um médico particular no qual confiamos e que nos oriente, disponível
dia e noite.
Desconheço médico que trabalhe menos de 14 horas por
dia.
Como ficará o transplante hepático se os médicos
responsáveis por ele, não tiverem um regime especial de trabalho, haja vista
que aqueles que são considerados doadores, não tem hora e muito menos lugar
para que isso aconteça?
E o que acontecerá com as apendicites, colecistites,
úlceras perfuradas ou sangrantes, perfurações de intestino, traumas de maneira
geral, se não houver um profissional treinado por, pelo menos cinco anos, para
atender estas urgências?
E alguém conhece o ciclo Circadiano e como isso
funciona?
Pois é, na doença, isso é o que funciona. Há doenças que
só se manifestam a noite, e outras que não tem preferência de horário.
Portanto, senhoras e senhores, jamais deixaremos de
depender de alguém que conheça as doenças, os doentes e suas mazelas.
Por mais que queiramos ser independentes de tudo e de
todos, sempre precisaremos de um médico por perto. Queiramos ou não, temos que
aceitar isto.
* Médico, Cirurgião, Professor Universitário.
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