Foto: Sérgio Rubim - Berlim 2013 |
Por Emanuel Medeiros Vieira (Para Célia – que foi comigo)
No túmulo de Kafka, em Praga, eu pedi: “Orai, por nós”!
Foi súplica, imprecação.
Antes, agora. Sempre.
No cemitério “Père Lachaise”, em Paris, escrevi no (túmulo) de
Proust: “Merci, Marcel”.
(Não, não fui apenas a cemitérios.)
E bati perna por Paris, fique contemplando o movimento nas
escadeiras da “Opera”.
Ir e vir de gentes.
(No metrô – contemplando a mocinha com boina e meias grandes – ela
lia, não mexia em
celular – pensei: não
verei nunca mais esse rosto, nem os outros, pessoas que vão e que vem.
Andar – e andar mais ainda – é um dos
prazeres maiores que sinto em Paris.
(Mas em relação às viagens da década de 70 – na época, com
escasso dinheiro e fugindo da ditadura brasileira –, havia agora turista demais
–chineses, japoneses, brasileiros etc.,
todo mundo querendo comprar e não VER. Os lugares cheios de gente.
Registrar: não ver. O
viajante vê – o turista registra.
E fugia dos locais mais turísticos – por exemplo, andando e
andando pela beira do Sena.
Não, desta vez nada do Louvre, Palácio de Versalhes (só
andei pela cidade e pelo seu mercado).
No Portão de Brandemburgo, em Berlim, “ouvia” o som de
paradas – vi pedaços do Muro.
E revi, numa longa e iluminada conversa, o meu velho amigo Flávio
Aguiar.
E lembrei que – num inverno europeu há tantos anos (1971) –,
eu o atravessara, e passara um dia em Berlim Oriental, com o meu saudoso amigo
Alberto Albuquerque e, à noite, Luiz Travassos nos esperava para tomar um vinho.
Lembrança de tanto sangue derramado: mas havia também
Beethoven e Goethe.
Violência e beleza.
Um concerto: era Mozart em Viena.
Em Bruges, senti mais beleza. Era uma cidade revisitada.
(Na primeira vez, década de 70, senti as pessoas menos
estressadas e mais simpáticas, como aconteceu em Madri e Roma – no geral, elas –(em
alguns países – estavam mais irritadas e antipáticas.)
Tantos outros lugares não citados: como Santiago de
Compostela. O que dizer? Já disseram tanto. Restam-me qualificativos que são
lugares-comuns: linda, impactante. Mais que isso: cheia de uma energia que não
sei definir.
E revistei o Porto – cidade que muito amei, e fiquei na casa
de um querido casal amigo, revendo a queria Manaíra, conhecendo o André – ambos
tão sensíveis e cultos, além de dialogar de novo com o combativo e humanista
Carlos Mota.
Como Lisboa – conhecendo o cotidiano da cidade, as pessoas,
a vida real -, parando no apartamento alugado pelo querido Fábio, sobrinho
sensível, preparado, tão amigo e generoso que lá estudava. Ele já está de volta
a Porto Alegre
Queria “segurar” a
vida. Um instante. Uma eternidade. O rio que flui.
Driblamos a morte,
“esquecendo” que – sem prorrogação, sem recursos, sem embargos – ela, inelutavelmente,
nos alcançará na soleira da morte.
(Eu sei: só capto
fragmentos, andando às pressas, numa narrativa quebrada – sempre em busca
intensa de uma verdade humana. Consigo captar algo, não a totalidade. É da
humana lida.)
Viajamos para o esquecimento. Mas “precisamos” viajar.
Em Dresden, sentei num banco à beira do rio –, e parecia
inacreditável que a bela cidade barroca alemã, tivesse sido completamente
destruída na Segunda Guerra.
É preciso escutar um fado, e contemplo o Tejo.
Ah, Lisboa revisitada de Pessoa!
Viajamos para
encontrar o que já sabemos?
Chovia muito em Veneza, e fazia frio.
Em Londres, caminhei por parques.
E “enxergar”, ir além
é fundamental (navegar é preciso –: ver e aprender é sempre necessário – se você só está sempre a ocupado a em
ensinar, nunca vai aprender.
Na Picadilyy Circus (junção de estrada e de espaço público
da Londres’s West na cidade de Westminster), num sábado à noite (acho que nunca
vi tanta gente junta e de tantas nacionalidades, um casal indagou-me se sabia o endereço de
certa rua.
Em Amsterdã andei por canais, contemplando tantas pessoas
andando de bicicleta, e (re) visitei o Museu Van Gogh.
Em Pompéia, pensei novamente na História (será ele sempre um pesadelo?), na vida
e em todos os impérios que sempre passarão – apesar de considerarem-se eternos.
Onde estou? No quintal da minha casa? Atravesso mares para
descobrir o que um menino, lá atrás, já sabia – encanto, finitude, sangue,
esperança. A vida como um breve sopro que precisa ser vivido, a cada dia,
sempre. Até.
(Brasília, novembro de 2014, e Salvador, maio e junho de
2015)
Querido Emanuel
Grato por me ter permitido viajar na tua viagem
Nos so vivemos uma vez em vida e multiplas nas memorias de nossos queridos e ate nos desconhecidos que por ventura do destino cruzaram conosco em qualquer momento seja material ou espiritual.
Texto denso, geografico, cultural e pleno de sentimentos.
Ainda um quintal nos revera surpresas inimaginaveis sob qualquer arvore frutifera que nos proporciona o aroma e o sabor da vida.
SaudadesSergio Zylbersztejn
Professor Assistente de Ortopedia e Traumatologia - UFCSPAQuerido Emanuel
Grato por me ter permitido viajar na tua viagem
Nos so vivemos uma vez em vida e multiplas nas memorias de nossos queridos e ate nos desconhecidos que por ventura do destino cruzaram conosco em qualquer momento seja material ou espiritual.
Texto denso, geografico, cultural e pleno de sentimentos.
Ainda um quintal nos revera surpresas inimaginaveis sob qualquer arvore frutifera que nos proporciona o aroma e o sabor da vida.
SaudadesSergio Zylbersztejn
Universidade Federal de Ciencias da Saude de Porto Alegre
Curso de Medicina - Departamento de Cirurgia -
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