domingo, 5 de julho de 2015
Sirtaki
Por Marcos Bayer
O conceito de democracia, no Ocidente, nasceu ali, na Grécia. Os gregos deram uma contribuição fantástica para a expansão do pensamento ocidental, em particular, e para o desenvolvimento mundial, em geral.
Da filosofia ao teatro. Da geometria à metafísica. Da lógica à literatura. Da mitologia à política.
Quanto da aventura humana não está contido na Odisseia, senão toda ela?
Foram sábios ao dividir o tempo entre Kairós e Kronos e vivê-los equilibradamente. Pensaram, produziram, usufruíram e mostraram que era possível ao homem viver holisticamente.
Hoje, espero, os gregos dão ao mundo mais um presente. Não uma revolta idiota de negação, mas uma aula de insubordinação à fúria do capital estruturado no último século com voracidade antropofágica. Uma onda de cifras que anula espaços da criatividade e do pleno desenvolvimento humano. Encarnado em Tsipras, o homem grego diz sim ao seu semelhante.
Para os mais religiosos, lembra o Papa Francisco, na sua Carta Verde: “à contínua aceleração das mudanças na humanidade e no planeta junta-se, hoje, à intensificação dos ritmos de vida e trabalho, que alguns, em espanhol, designam por «rapidación»“. Embora a mudança faça parte da dinâmica dos sistemas complexos, a velocidade que hoje lhe impõem as ações humanas contrasta com a lentidão natural da evolução biológica. A isto vem juntar-se o problema de que os objetivos desta mudança rápida e constante não estão necessariamente orientados para o bem comum e para um desenvolvimento humano sustentável e integral. A mudança é algo desejável, mas torna-se preocupante quando se transforma em deterioração do mundo e da qualidade de vida de grande parte da humanidade”.
Talvez a Grécia esteja dando ao mundo mais um sinal de referência: o sinal de que podemos entrar numa era de restauração do comportamento humano em relação ao sentido de bem viver. De usufruir dos frutos do trabalho, embebidos pela manifestação das artes numa paisagem ambientalmente sana. Numa dimensão em que o Homem volte a ser o centro do desenvolvimento, seu beneficiário e multiplicador.
Sirtaki, dizem alguns, significa processo, movimento, evolução...
Sirtaki é a capacidade de dançar sobre a desgraça econômica de uma empreitada mal sucedida, como em “Zorba, o grego”, imortalizado por Anthony Quinn.
Sirtaki é a dança da vida, do amor, da Grécia...
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