segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mediocridade e degradação da atividade política

    Por Emanuel Medeiros Vieira

    O filósofo vienense Ludwig Wittgenstein (1889-1951 ) afirmava: “Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.”
   Onde quero chegar?
   É de percepção solar a degradação das instâncias de poder no Brasil. E também a mediocrização e a degradação da atividade política.
   Quem ficou, como eu, há muito tempo em casas políticas (38 anos!), percebe que, além da desagregação dos valores, ocorre também a degradação da linguagem.
   Quero dizer: o nível dos parlamentares e o padrão dos discursos (sem qualquer ranço de nostalgia), piorou muito.
   Octávio Paz dizia que a degradação de uma nação começava pela degradação de sua linguagem. Independente de se concordar com suas posições ou não, percebia-se o nível de pronunciamentos de, um Aliomar Balleiro, de um Adauto Lúcio Cardoso e, posteriormente, de um Tancredo Neves, de um Ulysses Guimarães e de um Darcy Ribeiro. Não citei muitos.
    Muitas das colunas políticas da mídia impressa refletem isso. Várias são de uma mediocridade e de uma futilidade enormes. Deputado tal que jantou com outro líder, um parlamentar que foi visto conversando com o seu líder. A linguagem “neutra’ é uma falácia. Ela serve a diversos interesses, e nunca é neutra.
    Quero dizer: a mediocrização contaminou as próprias colunas, que deixam de contemplar análises consistentes (é claro, não estou pedindo teses acadêmicas), para se tornaram espaços para intrigas, fofocas, ou irradiarem nas entrelinhas outros interesses. Lembrem-se de algumas colunas. Teria sido claro?
    Informa-se que professores da Espanha e de outros países estão desistindo da profissão. Sentem-se mais ofendidos pelo desinteresse dos alunos do que pela sua ignorância.
    O conhecimento é um caminho longo e complexo. Não tem milagre. Ele perde em nossa sociedade da fragmentação, da pressa, do utilitarismo, do “quero já e agora”, para a busca do prazer absoluto e instantâneo.
    Haveria uma razão cultural pela queda do prazer gerado pela leitura. Lógico, o reino soberano é o da imagem, muitas mídias são oferecidas, tudo ficou mais rápido, complexo e esfacelado. E predomina a cultura do narcisismo, além de uma enorme preguiça mental.
    E o que me parece mais grave: há uma crescente indiferença pelo sofrimento humano. Dos outros. Nossos contemporâneos estariam imersos em bobagens sem valores, em futilidades, na obsessão pela beleza, pela magreza, pela juventude eterna, dominados pela infantilização mental? A vida estaria virando um deserto de valores. 

    E como se exerce a cidadania? 
    Um espaço seriam os partidos políticos. Mas no Brasil eles viraram clubes fisiológicos. Seria uma peemedebização ou petização – com todo respeito ao velho
MDB, de Ulysses Guimarães – total do sistema político?



Emanuel: você tem toda razão na análise da mediocrização da atividade política institucional. O que nos salva - e vejo isso aqui na Cúpula paralela à Rio+20 - é que, apesar disso, há pessoas, movimentos e setores da população que ainda operam na dignidade, no sonho, no plano das ideias e causas. Em tempos de resgate de Maluf pelo PT, há quem vá na contramão, como os peixes na piracema. Vale a pena! Obrigado pelo envio do texto - e pelas suas belas poesias, sempre.
Fraterno abraço,
Chico Alencar
(Deputado Federal, PSOL/RJ)

Um comentário:

  1. Concordo em todos os aspectos com o artigo do Emanuel.Parabéns por manifestar o que vai dentro da gente e as vezes não temos a perspicácia de colocar em texto! Ma. de Fatima Barreto Michels - LAGUNA/SC

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