Les Paul Corvette
Era uma tarde fresca de um domingo qualquer de um outono qualquer.
Marelice passava um café cheiroso na pequena cozinha de nossa casa de um
bairro popular qualquer de uma cidade qualquer. Osvaldo, o filho mais
velho cujo nome homenageava o pai dela, partira há dois anos para a
escola militar.
A mais nova, Manuela, acabara de seguir os passos de
Marta, da filha do meio. Há uma semana conseguira um emprego em uma
fábrica de camisetas e tecidos que migrara de Blumenau para o Ceará.
Partira rumo à sua vida por seus próprios caminhos, que, por enquanto,
levavam-na ao nordeste.
Clarelice rezingou entre-dentes com sua cara que
não chora emoções, só as dores físicas de uma cutícula encravada:
- Zé,
poderíamos comer um hamburger naquele “bréqui” perto da ponte.
Lembrei
do trailer do Alfredinho, um amigo que insistia ser patrão, empresário e
capitalista, localizado na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz,
aonde nos conhecemos e muito comemos e bebemos cervejas, antes da vida
nos mudar para São Paulo.
Ainda deitado no sofá fiz pequenas contas,
fáceis diante do pequeno orçamento e das poucas notas que sobraram para
passar a semana antes do próximo opróbrio hebdomadário.
– Lice, se a
gente correr a gente pega o ônibus das 6:15 que passa a umas quadras de
lá...
Estávamos jogando, apenas jogando a mais de 800 km de um lugar que
só existia no passado e que a cada km nos envelhecia ao contrário de
rejuvenescer. Cada milha a mais em direção ao passado ficávamos mais
velhos e pobres. E novamente sem a prole que naquela época não passava
de uma expectativa equivocada de cada deliciosa trepada em pé, atrás da
igreja, no muro do INPS, na mureta do cemitério ou em qualquer lugar que
nossa memória não reconhece mais.
– Zé, vem tomar um café!
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