FECHADO PARA BALANÇO
Por Olsen Jr.
Supondo que se pudesse emprestar este “recurso administrativo” de gerenciamento de empresas para uma causa humana e individual, quando interrogado sobre como me sinto nesse final de ano, respondo: “fechado para balanço”.
Não que tenha demasiados produtos para fazer o tal recenseamento, tampouco que “eles” valham muito, mas é o que disponho e com esses que devo contar. Tenho consciência de que se fosse uma loja de artesanato, de manufatura morosa e acima do poder aquisitivo mundano, já estaria trabalhando no prejuízo há muito tempo.
O que tenho a meu favor nesse empreendimento é o fato de não precisar despender recursos com mão de obra de terceiros e também não dispor de funcionários para trabalhar na área, a menos que se considerem os ditos “fantasmas” do ofício, mas esses são generosos, sempre aparecem em grande número e se divertem com o meu empenho em tentar entendê-los e, mais ainda quando me percebem buscando tirar algum proveito dessas incursões malogradas que fazem imaginando talvez, que com isso, sabotem o “meu fazer”.
Alguma coisa tem de ser feita, penso, senão enlouqueço.
Lembro do Scott Fitzgerald e naquela série de textos que publicou com o título “A Derrocada” (em inglês, “The Crack-up”), falando de sua vida, como ela era (glamourosa, rica e bem sucedida) e de como ela estava no momento em que se confessava publicamente (no semi-anonimato, pobre e fracassada)... Ernest Hemingway achou tudo aquilo um horror porque um homem não poderia se revelar daquela maneira para o mundo, ainda mais sendo um artista porque tinha consciência de que tudo o que acontece para um escritor pode ser-lhe útil, mas isso requer um processo de maturação que só um distanciamento cronológico possibilita e desde que o acontecido seja (re)criado com arte... Mas é outra história.
O que fazer com o material que se tem? É isso. Tenho dado um duro danado, mas não tem sido fácil. Tem horas que parece, tudo está conspirando contra. Pessoas que não conseguem ser dissimuladas sofrem mais. Sim, é necessário não perder de vista o objetivo, custe o que custar. Poucos conseguem. É preciso ter “cojones”, com o perdão pela vulgaridade, a expressão hardboiled (calejado) é mais elegante. Uma minoria chega lá de fato e por isso são poucos os escritores contemporâneos que admiro.
Estamos vivendo uma outra espécie de ditadura, nessa se pode tudo, paradoxalmente ninguém está conseguindo fazer nada. Hoje a ditadura se manifesta de maneira mais sutil: é a covardia em se definir diante da vida, quando esta nova posição implica em perda; é o silêncio diante da barbárie; é a omissão ante a sacanagem quando acontece com os outros; é a falta de diálogo; é o medo de estarmos sendo observados em nosso medo; é a agonia da testemunha que teme o mesmo destino do crime que presenciou...
De repente é aquela grande amizade de 34 anos e você acaba descobrindo que nem era grande e sequer era amizade; aquele amor impossível que te aniquila um pouco todos os dias, mas também de conforta com o simples fato de existir; aquela dor que te mata um pouco gradativamente, sem pressa, mas que você precisa dela para criar (lembra-se do conto “O Rouxinol” de Oscar Wilde?); é a insolência do cotidiano que temos a impressão de que só nós que estamos vendo... Tudo isso massacra, faz você perder as esperanças, e nos versos de um poema do bom e velho Bertolt Brecht, no “Apêlo Endereçado Aos Pósteros”, se descobre que essa percepção do mundo vem de longe:
"... Entretanto sabíamos:/
o ódio contra a baixeza/ também endurece os rostos!/
a ira contra a injustiça/ faz a voz ficar rouca./
Infelizmente, nós, que queríamos preparar o terreno para a amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos/
Mas vocês, quando chegar o tempo/ em que o homem for amigo do homem,/
pensem em nós com um pouco de simpatia”.
De qualquer maneira, nessa jornada chamada vida, a sensação que tenho é a mesma do viajante que se vai desapegando de suas tralhas durante a jornada, e quanto mais se livra dos objetos e das lembranças que lhe parecem inúteis e dispensáveis, mais pesado fica para seguir em frente e tenho a consciência de que jamais vamos nos libertar desse gosto amargo das coisas perdidas... É o que redime os poetas!
CANGUITA.
Começar esse texto com ELVIS - perfeito na interpretação que nos atinge no íntimo - foi muito bom. Nosso querido OLSEN nos proporciona um belo e difícil olhar prá nós mesmos - e vale a pena percorrer o texto até o fim...
FELIZ ANO NOVO!
Dario
CANGUITA.
ResponderExcluirComeçar esse texto com ELVIS - perfeito na interpretação que nos atinge no íntimo - foi muito bom. Nosso querido OLSEN nos proporciona um belo e difícil olhar prá nós mesmos - e vale a pena percorrer o texto até o fiM...
FELIZ ANO NOVO!
Dario