terça-feira, 17 de agosto de 2010

Carta Aberta ao amigo Sérgio Rubim

De Emanuel Medeiros Vieira

Continua!
Lendo o teu blog (e os de outros humanistas), constatando a reincidência do Mal, das falcatruas, das tramóias e das velhacarias, marca registrada do Estado patrimonialista brasileiro, não nego que, às vezes, bate um desânimo danado, uma espécie de impotência para conseguir melhorar os padrões de conduta de tantas pessoas, e de tornar republicana as relações entre o público e privado. (Pobres filhos da Ideli! Não têm dinheiro para pagar advogados!)

Desânimo?

Mas, gramscianamente, repito sempre que É PRECISO MANTER O PESSIMISMO DA INTELIGÊNCIA E O OTIMISMO DA VONTADE. É que “vim” de longe”: estou com 65 anos e comecei a luta aos 15. Nessa altura da vida (não sendo aposentado do INSS), poderia “esquecer” os problemas nacionais e alienar-me completamente.

Não consigo.

Creio que honrei minha família, minha geração, meus amigos (perdoa o tom retórico, mas escrevo com o coração). Lutei tenazmente contra a oligarquia catarinense, a ditadura nacional, escrevi meus livros e sempre busquei intervir buscando o “núcleo do humano” e da Justiça.
Poderia me dedicar apenas ao que amo, como a literatura (escrevendo, lendo, como faço todos os dias). Quando lembro que nos seus inícios, um dos slogans do PT, era “um partido que não rouba e não deixa roubar”, fico assombrado.
Seria humor negro? Nunca se viu uma turma chegar com tanta sede ao pote. Eles falavam da chamada “burguesia” mas o que queriam era chegar a ela.
Quem nunca comeu mel... (Não é, mamãe?)
É um “bolchevismo sem utopia”, como classificou alguém. Repito: um partido que não rouba e não deixa roubar!
Com Jáder Barbalho, Renan Calheiros, Fernando Collor, Romero Jucá, a sempre danosa família Sarney, e tantos outros seres tão idôneos? Não, senhor José Dirceu: a corrupção não é assunto pequeno burguês.
Agora que vivo no Nordeste (fazendo a “ponte” afetiva com, Brasília), na velha Bahia, fere mais o coração humano, constatar o grau de crueldade dos donos do poder, a traição imperdoável do PT e seus novos oligarcas, além da obscena concentração de renda. E as mentiras.
(Não, não vim do PFL, atual DEM.)
Tancredo dizia que a ARENA era o partido dos grotões. Será o destino do PT? A campanha que membros do partido faz aqui no Nordeste é fascista e terrorista, garantindo que os outros candidatos, se ganharem a eleição, terminarão com o Bolsa- Família.

Quem dará continuidade é a amiga da família Sarney, esse poço de ternura, de humanismo e de sapiência: a dona Dilma, aquela que não grita com funcionários e que detesta a mitomina!
Aparecerá como a “Barbie da esquerda” no horário eleitoral gratuito. Não me importa que ela ganhe. Não perderei a coerência por causa de eventos tão tristes e danosos ao país. O Império Romano durou quantos anos? Um dia, ele acabou, não?
A aliança petista com a elite escravocrata nordestina, também terminará um dia. Não devo estar mais aqui. Mas sei, como falava Carlos Castãneda, que nada pode temperar tanto o espírito de
um guerreiro quanto o desafio de lidar com pessoas intoleráveis em posições de poder. Estou sendo claro?
A “sábia” Ideli e todos os cínicos poderão rir de mim, e me chamarão de romântico, idealista, cristão. Eles pensam que mudar um país é dar geladeira e iogurte para a população. O nosso “grande estadista” Lula, carregado de megalomania, chegou a dizer que se o Bush tivesse ligado antes para ele, não teria invadido o Iraque...
Num país de “tanto conhecimento”, também afirmou que ler dá azia!
Sérgio: termino com os versos de Fernando Pessoa:

“Cumpri contra o destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.”

Continua, amigo!

Salvador, agosto de 2010

Karoline Silva deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Carta Aberta ao amigo Sérgio Rubim": Entendo os sentimentos relatados pelo sr. Emanuel e lhe digo: com 65 anos o senhor viu muita coisa progredir, viu mudanças boas mesmo neste Estado Patrimonialista, viu a "democracia" se reestabelecer, viu os movimentos estudantis, enfim... conseguiu ver algum tipo de consciência política.
E eu? Tenho 20 anos, nasci em 89, o clima estava se apaziguando. Não lembro das crises, da inflação e mal lembro do plano real. Tudo parecia pronto pra minha geração... e esse é o mal. O mal de uma geração sem consciência política, sem vontade, sem companheirismo, sem luta! Uma geração acomodada que se importa mais com o que vai rolar na balada do dia ou qual a roupa vai estar em evidência na estação...
A culpa? Não sei de quem. Só sei que meus pais me ensinaram bons princípios e eu pretendo fazer o mesmo por meus futuros... E assim, continuo com o pessimismo da inteligência e o otimismo da vontade, como dizem as sábias palavras pelo senhor citadas, não engolindo absurdos como este que relatei (justiça gratuita aos pobrezinhos Salvatti Mescolotto) e ficando feliz que exista algum espaço - ainda - para compartilhar esta indignação.
Abraços.
Karoline Silva

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