sábado, 2 de abril de 2011

APOLÔNIO

Para Gerônimo Wanderley Machado

Por Emanuel Medeiros Vieira*


Apolônio de Carvalho – participante da Intentona Comunista de 1935, da Guerra Civil Espanhola, da Resistência Francesa e combatente ativo da guerrilha contra a ditadura militar

Brasileira – morreu no dia 23 de setembro de 2005, às 18h35.

Dele alguém disse: “Foi o retrato fiel do que melhor existiu no século XX”.
Teve esse enorme mérito num país de essa memória, no qual a maioria se doa tão pouco aos outros e às causas justas, e a palavras generosidade e compaixão parecem ter desaparecido, e onde quase sempre prevalecem os trambiques, as desilusões e a impunidade.
Mesmo correndo o perigo de cair na exaltação ou monumentalização de um ser, é difícil evitar a admiração funda para falar de um homem simples, quase um “santo laico”.

Nascido em Corumbá (Mato Grosso do Sul), em 9 de fevereiro de 1912, Apolônio era chamado pelo escritor Jorge Amado (1912-2001) de “herói de três pátrias”.

Iniciou sua militância política na década de 30, filiado ao PCB.
 Foi um dos fundadores do PT, sendo portador da ficha de filiação número 1. (Quando muitos brasileiros que enfrentaram a ditadura, nas ruas e sofreram nas masmorras do regime, foram vítimas da tortura, vivendo no exílio (externo ou interno), acreditavam que o novo partido fosse mudar as práticas política do Brasil.)
Apolônio entrou na Escola Militar de Realengo em 1930.
Forma-se em 1933. Em 1935, passa a integrar a ANL (Aliança Nacional Libertadora), frente antifascista presidida por Luís Carlos Prestes. Em novembro daquele ano, a aliança promove levantes contra Getúlio Vargas, em Natal, Recife e Rio de Janeiro, logo sufocados. Torna-se comunista na prisão, formalizando sua adesão ao PCB em junho de 1937, quando é libertado.
Viaja em junho para a Espanha, onde luta em defesa do governo republicano contra as forças fascistas de Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
Após a derrota republicana, em 1942, engajou-se na Resistência Francesa contra a ocupação nazista.
Em dezembro de 1946, retorna ao Brasil com a família e se reintegra ao PCB.
Em 1947, passa a presidir a União da Juventude Comunista. Após o golpe militar de 1964, critica a direção do partido e é expulso. Funda o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) em abril de 1968, participando da luta armada contra o regime militar. Preso e torturado, em 1970 é banido para a Argélia em trocado embaixador alemão. Volta ao Brasil em outubro de 1979, após a anistia de agosto daquele ano.
Apolônio de Carvalho era uma alma simples, alegre e delicada, uma espécie de “distribuidor de esperanças”.
Eric Nepomuceno escreveu: “Mais que um cidadão o mundo, era um veterano da humanidade. Desses que se vão e deixam um vazio na história de todos nós.”

*Emanuel Medeiros Vieira, é escritor, nascido em Florianópolis, em 1945. Residiu durante 31 anos em Brasília. Desde maio de 2010, vive em Salvador.

Foi da AP (Ação Popular), militando ativamente contra a ditadura. Militar, sendo amigo de Luiz Travassos, de Roberto Motta, de Jarbas Benedet, de Adolfo Dias, de Marcos Cardoso Filho, de Alécio Verzola, de Alberto Albuquerque, de Chico Pinto e de outros combatentes da democracia, – que também já não se encontram entre nós.
Em 2010, Emanuel recebeu o Prêmio Internacional de Literatura pelo seu livro “Olhos Azuis – Ao Sul do Efêmero” (Thesaurus Editora/FAC, Brasília, 2009), concedido pela União Brasileira de Escritores – UBE, sendo contemplado com o “Prêmio Lúcio Cardoso”, concedido ao melhor romance – na avaliação da entidade –, publicado em 2009 no Brasil.

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