Personagens
do Combate de 1912
Por Celso Martins
Alguns personagens do Combate do Irani precisam
ser lembrados.
É
preciso que se repare a injustiça feita contra essa gente, acusada de tudo de
ruim que se possa imaginar.
São pessoas que nada mais fizeram do que defender
as terras de onde tiravam o sustento de suas famílias. Não eram marginais ou
bandoleiros, mas passaram à história como se tivessem sido.
Estamos falando de pessoas cujos descendentes
ainda residem no Irani e região, ou foram para o Sudoeste do Paraná e outras
áreas.
Muitos
tiveram que adotar outros sobrenomes, como os Antunes das Neves, descendentes
diretos de José Fabrício das Neves que residem em Pinhão-PR. O mesmo
fizeram alguns filhos de Thomaz Fabrício das Neves, irmão de José, na região de
Palmas.
Em relação a José Fabrício das Neves vimos sua
parceria com José Maria e seu papel destacado no Combate. Vamos ver a seguir
sua presença no restante do Movimento do Contestado.
Sabemos que nasceu na região de Passo Fundo-RS,
onde aos 13 anos participava de combates da Revolução Federalista (1893-1895),
ao lado dos maragatos. Foi emboscado e morto em 1925. A sepultura pode ser
visitada nas margens do rio Irani, no município de Vargem Bonita.
Fornecemos a seguir uma espécie de “lista” de
alguns indiciados no Inquérito que gerou o Processo do Irani, aberto em Palmas
no dia seguinte ao do combate. São vários objetivos ao se enfatizar a “lista”.
Em primeiro lugar destacar os combatentes de uma luta pela terra, amparados na
fé católica e na religiosidade de São João Maria.
Em segundo estimular os descendentes destas
pessoas a contribuir com a memória do combate. Muitos não o fazem por vergonha
desse passado, mas a maioria por não saber dar o devido valor a uma fotografia,
uma carta, uma oração, uma lembrança dos mais antigos ou relatos ouvidos na
infância.
A “lista”
José
Alves Perão, conhecido por José
Felisberto, foi participante ativo e uma espécie de braço direito de José
Fabrício, antes, durante e depois do combate. Seu irmão Elizeu também
participou. Havia outro irmão, Desidério, e a mãe deles, dona Joana. Os Perão
têm origem na Argentina com o sobrenome Perón, depois aportuguesado. Existe a
versão Perone ligada ao mesmo Perón/Perão.
A família Belchior
também esteve presente, como Cândido, Antônio, João e Manoel.
Bento
Manoel dos Santos era o chefe de
numerosa família. Conhecido por Bento Quitério. É referido por vários
historiadores, pois foi ao lado da sua casa que João Gualberto montou a
metralhadora. E foi onde também morreu. Um filho de Bento, Felipe, morreu em
combate e foi sepultado no antigo cemitério do Irani. Outro filho, Alfredo,
teve participação ativa. Saturnino Manoel dos Santos, irmão de Bento, também
estava no combate.
O coronel da Guarda Nacional Miguel Fragoso, paranaense estabelecido no Engenho Velho
(Concórdia), e antigo maragato, se deslocou ao Irani com dezenas de homens
armados em socorro de José Maria. Mais tarde um filho de Miguel, Chico Fragoso,
morou e se casou no Irani. Seus descendentes estão em Coronel Domingos
Soares e Palmas.
Outros Fabrício das Neves são: Miguel (tio de José e de Thomaz). Thomaz, irmão de José. Clementino (secretário de José Maria), Antônio (possivelmente o pai de José e
Thomaz). Gabriel Fabrício das Neves
não foi indiciado, mas seu nome é citado como apoiador por Maurício Vinhas de
Queiroz. O mesmo acontece com o pai de Antônio Martins Fabrício das Neves, a
quem nos referimos em Crônicas do Irani 2.
Os
Lemos também estiverem presentes no combate, como Francisco e João Lemos.
Sobre várias pessoas não encontramos maiores
referências ou descendentes, como: Firmino Sapateiro, Luiz (indicado como filho
de João Luiz), João Venerando, Paulo Ramos, Estanislau Borges, Raphael de Brum,
Sÿnfronio Honorato do Canto, Sebastião Lageano, Sebastião Vicente, Sebastião
Baiano, Venâncio Lageano, Veríssimo de Faria, Benedicto Teixeira Guimarães,
Emiliano Glória, João e Joaquim Bello, Joaquim Antônio Santiago, Mathias
Ermelindo, Manoel Barreto, Francisco Maria, João Vermelho, Joaquim Germano,
Joaquim Gomes e José Clementino. Muitos
desses homens podem não ser do Irani e seu sertão, Queimados (atual Concórdia).
A
história
É preciso esclarecer que nem tudo na História é
permanente e definitivo. Existem problemas a serem resolvidos. Que a Guerra do
Contestado aconteceu ninguém duvida, está fartamente provado e documentado,
guardado na memória, mas quando passamos para as suas causas surgem os
problemas.
Como toda ação humana, escrever é um ato cultural,
uma construção, um parecer a partir das fontes, informações reunidas e da visão
de mundo/ideologia do autor que condiciona o enfoque.
No caso do Contestado vamos citar uma seqüência de
expressões e adjetivos dos que escreveram sobre o tema, esclarecer do que
estamos falando.
Setembrino
de Carvalho, 1915
Fanáticos, inimigo, bandoleiros, carolas,
criminoso aldeamento, banditismo, ousadia feroz, movimento revolucionário,
matutos, jagunços, desordeiros, sedição, populações ignorantes, fanatismo
funesto, antros criminosos, falsa religião, segregados dos centros de
civilização, hidra da anarquia, perturbadores da ordem republicana, patrícios
transviados da lei.
Demerval
Peixoto, 1916
Afamado antro de bandidos, facínoras, degenerados,
índio feroz, entes desgraçados, covil afamado, entes desgarrados, aluvião de
infelizes, irmãos enlouquecidos das selvas, matutada, brasileiros transviados,
movimento de bandoleiros, astuta matutada. Sertanejo semi-bárbaro, esqueléticos
caipiras, combatentes pecadores, meliantes, tabaréus, malfeitores, traiçoeiros
e sanguinários.
José
Herculano Teixeira d’Assumpção,
1917
José Maria: perfeito farsante, pseudo-irmão de
João Maria, pseudo-asceta, inteligente, desertor, satisfazia seus cúpidos desejos
em algumas ingênuas donzelas sertanejas.
Oswaldo
Rodrigues Cabral, 1979
Grupo de sertanejos, fé exaltada e desviada da
ortodoxia católica, monge ignorado e ignorante, sertanejos rudes, monge
estranho, fanatismo, doutrinas sediciosas, rebelião, crime, loucura, sertanejo
rebelado, fanatismo religioso, doutrinas subversivas, bando de rústicos, bando
de fanáticos, jagunços. Sobre José Maria: impostor, taumaturgo.
Maurício
Vinhas de Queiroz, 1981
Homem, curandeiro de ervas, sertanejos, messias,
ajuntamento de povo, discípulos, místico retorno, acampamento religioso,
adeptos de José Maria, ninho de guerrilheiros, movimento messiânico do
Contestado, massas camponesas, direito de terras.
Ivone
Gallo, 1999
Movimento popular, eremita, andarilho, profeta,
curandeiro, milenarismo, revoltosos, rebeldes, excluídos, guerra sertaneja,
caboclos, lideranças do Contestado.
Delmir
Valentini, 2003
Sertanejos, José Maria e seus seguidores,
movimento, fraternidade, líderes, exaltação mística, sonho da convivência fraterna,
pessoas nos redutos, comandante José Maria.
Paulo
Pinheiro Machado, 2004
Sertanejos seguidores do monge, lideranças
sertanejas, movimento social do Contestado, características místicas, exaltação
milenar, messianismo, líderes do reduto, movimento rebelde. (Por
Celso Martins, outubro de 2011)
Nenhum comentário:
Postar um comentário