Por Olsen Jr.
Estou pensando em Hemingway, como ele iniciaria esse texto? Quando optou pelo jornalismo, no “Toronto Star”, o editor havia afixado as “100 Regras” básicas para um jovem repórter se dar bem na profissão, entre elas, a de que deveria começar todos os textos com uma frase “afirmativa”... E também, os períodos deveriam ser “curtos”...
Well, então vamos ver, partindo de uma de suas acertivas: “O homem não foi feito para a derrota; o homem pode ser destruído, mas não vencido”.
Às vésperas de fazer 54 anos estou aí a conjecturar “Amo escrever. Mas em nenhum momento as coisas foram fáceis, e você não pode esperar que assim sejam, caso continue esforçando-se por algo além de suas possibilidades”.
Escrever!
Escrever é uma obsessão perseguida desde os 13 anos de idade. Muitas vezes já me perguntei se isso aí não é uma doença. Supondo que seja uma enfermidade, qual o seu antídoto? E se essa compulsão pertencer aquele gênero de mal em que a medicina já se debruçou, mas sem sucesso ainda? Então, amigo, semelhante aqueles colonizadores que partiam da Europa para povoarem o novo mundo, uma viagem capaz de demorar até seis meses em alto mar, um caminho sem volta, onde os seus integrantes depositavam todas as suas economias, muita fé e toda a determinação do mundo, uma vez iniciada, não havia como parar o avanço. Ainda que o destino fosse o “desconhecido”, ou talvez por isso mesmo, o desafio era viabilizá-lo, era nisso que todos se empenhavam.
Sim, agora já temos algumas “facilidades”, não precisamos abrir trilhas porque inúmeras estão a nossa disposição, o repto é que mesmo escolhendo um caminho conhecido, a jornada deve ser feita sozinho, e essa é a nossa penitência, não temos a quem recorrer, não há nenhuma estação de repouso onde se possa pedir abrigo, descansar e seguir adiante, não existe informações precisas sobre o nosso destino, sequer se o caminho é mesmo aquele que estamos seguindo... Mas então, por que continuar avançando? Por que exercer esse papel egoísta que, diante de uma criança passando fome, pode ser até obsceno?
Não tenho uma resposta, mas a sensação é de que alguém tem de fazer o percurso. Periodicamente aparece um ser que decide enfrentar o que se chama “seu destino” ou acredita que seja, e se embrenha nessa busca de saber “quem é” através da escrita. Dureza essa tarefa, o mais simples seria deixar a vida seguir, ou como diria o Old “Papa” Hemingway “Não me preocupa de que se trata nesta vida. Só quis saber como viver dentro dela”.
Tudo, na essência, é muito simples “Jornalismo ou não, todos os livros deviam ser a respeito de pessoas que conhecemos, amamos e odiamos, não sobre pessoas que imaginamos”. Mas quando afirma que “Escrever é bem levar uma vida solitária. Um escritor realiza sua obra na solidão, e se for suficientemente bom, deve cada dia enfrentar a eternidade ou a ausência da eternidade”, para dizer mais adiante “Um homem sozinho não tem chance”...
Olha só o dilema, você se imbui dessa consciência de que precisa da solidão para fazer bem o seu trabalho, mas junto com “ela” exista outra, de que essa ocupação ausente do coletivo é uma condenação. Então, passamos uma vida inteira buscando o nosso próprio malogro... Claro, a conclusão é óbvia “A morte é o supremo remédio para todos os males”. Hemingway antecipou-a...
Não é o caso de apressar o fim, basta ficar com pequenas certezas e grandes dúvidas, no primeiro caso “tudo em que se crê é uma imagem da verdade” e no segundo, cada ser traz dentro de si a sua própria verdade, tornar tal realidade digna de apresso é o desafio de uma vida, é o que um escritor se propõe, ainda que precise “ser” destruído no final, para mostrar que estava vivo e que tentou!
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