Por Olsen Jr.
No bar, só vi isso em Buenos Aires. Antes de pedir o café, todos os presentes concentrados na leitura dos jornais diários. Não há jornais para todos. Resigno-me com os comentários dos outros enquanto espero, ouço: “esse Sarney é incrível, ele já era um espertalhão quando eu era criança. Onde este senhor está mais dia menos dia vão descobrir alguma falcatrua. Olha só isso, ele afirma que o problema não é ele, mas o senado”. As palavras chegaram da mesa ao lado, imagino um “imortal” da Academia Brasileira de Letras, político de carreira (a única profissão em que o sujeito não precisa comprovar idoneidade), cria uma editora na casa que preside claro, uma editora precisa de um diretor, de um secretário, de um executivo, de alguns membros para o conselho editorial, e assim, mais parentes vão ocupando os espaços, aliás, espaços que foram criados para a ocupação de parentes, de amigos, de amigos dos amigos. Não se pode negar a “engenhosidade” do método. O código penal chama de outra coisa.
No estacionamento, movimento intenso de carros. Observo o pai segurando a criança pela mão no canteiro que separa as duas pistas no meio daquele rush. Do outro lado, sinalizo com o farol para não ter pressa que vou aguardar, ele agradece. Quando passa o último veículo, avança com a criança pela mão, faz um aceno com a cabeça em sinal de agradecimento e depois, antes de entrar no seu próprio automóvel, olha para mim e ergue o polegar, sinal de positivo, como se não estivesse acreditando no gesto. Mundo triste esse quando de tanto assimilar a barbárie passamos a nos assombrar com os gestos de boa vontade.
No posto de gasolina, o cara entra com o carro por onde os veículos devem sair, naturalmente, depois, irá sair pela entrada, visivelmente embriagado, emendando a madrugada com a manhã, ouve do atendente (depois de abastecer) um solene “não se preocupe senhor, a coisa toda vai, vai, vai até que piora”...
No caixa-eletrônico, espero enquanto ouço alguém na minha frente dizer “quando não se tem dinheiro nenhum banco presta”.
Na casa lotérica, escuto “meu time (referia-se ao Vasco) não perdeu nenhum jogo e foi eliminado, uma pena conclui, não pergunto se “eles” ganharam alguma, mas ouço antes de sair que as trombetas tocadas na Copa das Confederações chamam-se “vavuleras”, pô, cultura inútil...
Na banca de jornal, alguém convida alguém para tomar um a cerveja, o convidado responde, “não, muito obrigado, hoje vou me “poipá” (fazia menção ao “poupar” no sentido de economizar) era dose pra mamute...
No almoço, o garçom diz para mim que só tem desgostos com os times de futebol por quem torce (o Avaí e o Vasco, este na segunda divisão) sugiro que torça por um clube grande, o Internacional, por exemplo, ele diz que irá comprar uma camiseta no dia seguinte quando tiver folga, parece convencido...Depois alguém passa por mim e afirma que não tiro mais a camisa (referia-se ao Intenacional), digo que tenho 17 delas, todas diferentes, justamente para ninguém encher o meu saco. A velhinha que está na minha frente, em outra mesa, faz um sinal com a cabeça no sentido de aprovação, depois soube que ela também era torcedora do Inter, coisa de louco...
No café, o sujeito respondendo a pergunta: por que você vem aqui? Afirma “todo o mundo vai lá ou vão ali (referia-se a outros cafés), como não sou todo o mundo, venho aqui”... Quem mandou perguntar?
Penso nessas frases todas, colhidas aqui e ali, com uma lógica ingênua e fatalista, como se tudo estivesse escrito antes de nascermos, e o homem não pudesse mais mudar aquela escrita...
Então, quando chegou a minha vez de fazer um pedido, lembro dessa pasmaceira toda, e da subserviência acólita e não vacilo, digo logo, “me dê com espaguete ao fungui com um contrafilé... E se me perguntarem por que? Afirmo, pelo menos o filé é contra !
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