quinta-feira, 18 de junho de 2009

Fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista

Recebi do meu amigo Dario de Almeida Prado Jr. este lindo "desabafo"

Canguita.
O Supremo decidiu: Diploma obrigatório nunca mais.
Escrevi este desabafo.
Abraço,
Dario

Diploma nunca mais

Acabo de ler a notícia de que o STF finalmente extinguiu a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Com alegria.

Afinal, foi uma condição obtida pela categoria nos anos mais negros da ditadura.

Nunca fui contra a existência da escola e diplomas para seus freqüentadores que obtivessem o aproveitamento escolar necessário para tanto. Mas sofri na pele a questão.

Aos 17 anos, comecei a trabalhar como jornalista, na condição de repórter da recém lançada revista Veja, em São Paulo, no ano de 1969. Naquela redação tínhamos arquitetos, economistas, poetas, escritores, jornalistas mais ou menos experientes oriundos dos grandes órgãos de imprensa do País. E tudo funcionava muito bem, e a revista vingou. Foi uma grande experiência para mim, cujo alcance vim a entender muito depois.

Logo tínhamos o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo pressionando os órgãos de imprensa de São Paulo para que eliminassem os não formados de seus quadros.

Em 73, ao procurar frilas na redação de Exame, escutei mais uma vez que “o Sindicato está arrumando briga com as redações que proporcionarem trabalho aos não formados”. Nesse dia, acertei minha vinda para SC, que ainda não tinha curso de jornalismo, e portanto, admitia profissionais na condição de “provisionados”. Vim para substituir o pessoal que havia abandonado O Estado no que conheci como “o grande motim”.

Engraçado que só vim a ter meu registro definitivo de jornalista graças a um ato do Ditador Ernesto Geisel, tudo de acordo com os Sindicatos, que não puderam eliminar os que já comprovadamente tivessem exercido a profissão ao longo de algum tempo.

Nunca notei, por parte dos Cursos de Jornalismo de SC, nenhum gesto no sentido de nos oferecer qualquer tipo de formação complementar à nossa experiência, não importando que tivéssemos fundado nossos próprios jornais, combatido de frente a ditadura e os abusos relativos aos negócios públicos.

Sei que muitos jornalistas formados ajudaram a construir um novo Sindicato em SC, que fundaram o Jornal de Santa Catarina e lançaram as novas bases(de então) de O Estado. Sei que hoje, nos bons cursos, contam os alunos com bons professores e equipamentos para a consolidação de seus conhecimentos.

Mas daí para uma obrigatoriedade de um diploma para o exercício da profissão, é muita coisa.

Repito: não sou e nunca serei contra a existência dos cursos de jornalismo. Os patrões poderão continuar contratando só formados, por exemplo. Os concursos poderão conter essa cláusula, como o fazem, excluindo jornalistas de grande experiência.

Me lembro, porém, de uma entrevista feita por um jornalista do saudoso COOJORNAL, de Porto Alegre, com o editor do cubano GRANMA. Nosso patrício perguntou: Existe liberdade de imprensa em Cuba? Não, foi a resposta, aqui o jornalismo está a serviço da revolução. Mas vocês também não têm liberdade de imprensa, continuou o cubano. Como não? Vocês têm liberdade de impressão, o que não é a mesma coisa: afinal, o grupo detentor do meio de comunicação determina a linha editorial que melhor atender aos seus interesses.

Lutar para a democratização dos meios de comunicação no Brasil ainda é uma grandíssima tarefa para os jornalistas: ou a concessão – e o férreo controle desse processo - da quase totalidade de rádios e TVs para grupos políticos não atesta uma vergonha nacional? Os grandes jornais (alguns já na condição de apenas grandes títulos)de SC estão na mão de um único grupo de comunicações!

A internet, felizmente, abriu novos espaços para a atividade do jornalismo. Prá gente que pensa e ama este país, que sonha e luta para fazê-lo melhor para os brasileiros. Tem lugar para muita gente.

É, vou dormir melhor esta noite.

PS: O Sindicato dos Jornalistas vai continuar exigindo o diploma para filiação?

3 comentários:

  1. Caro amigo Dario
    Faltou comentar apenas uma coisa, que a meu ver pode alterar esse teu raciocínio: no tempo em que não era exigido formação (diploma), a corrupção era grande, com pessoas entrando no Jornalismo para se dar bem na vida. O sentido ético da profissão, presente com força hoje em dia, está relacionado com o ingresso de formandos da UFSC, inicialmente, depois de outras escolas, no mercado. Concordo que o curso de Jornalismo da UFSC deveria aproveitar melhor a experiência daqueles que, sem diploma, fizeram o Jornalismo catarinense. A atividade não começou em 1979...
    Saudações
    Celso Martins
    O que fizeram no STF foi sacanagem

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  2. Odair José Paz19 junho, 2009 14:50

    Caro Senhor

    Quem fala contra o direito de Diploma de Jornalista, esta ajudando a criar uma sociedade mais tapada e ignorante. Todos os seus anos trabalhando em comunicação não valem nada, pois esta abrindo oportunidade de tornar nossos jornais em um grande Big Brother, cheio de palhaços querendo aparecer. Então muito obrigado por ajudar a destruir o pouco de cultura e luta pela verdade.

    Odair José Paz
    Estudante de Jornalismo

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  3. Grande Dario!
    Um abração pra vc, meu irmão, valeu o recado.

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