Por Olsen Jr.
Não é só o Internacional que faz cem anos. Em 2009, a letra do Hino Nacional do Brasil também faz cem anos. Coincidiu. Na semana passada, quatro mulheres comentaram o hino na TV no programa “Saia Justa” e lembro que estou desde a Copa do Mundo de 2002 para falar do poema do Joaquim Osório Duque Estrada.
A música de Francisco Manoel da Silva foi composta em 1822, chamada de “Marcha Triunfal” para celebrar a independência do País. Quando Dom Pedro 1º abdicou do trono, Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva fez uma letra que foi cantada pela primeira vez em 13 de abril de 1831 para marcar o evento.
Após a Proclamação da República em 1889, foi feito um concurso para escolher o que deveria ser o Hino do Brasil. A Composição “Liberdade, Liberdade, Abre as Asas Sobre Nós”, letra de Medeiros e Albuquerque e música de Leopoldo Miguez, acabou vencendo.
Mas o povo a repudiou e nem o próprio Marechal Deodoro da Fonseca gostou do resultado. A composição foi transformada no “Hino da Proclamação da República”. Dessa forma, a música de Francisco Manoel da Silva ficou sem letra.
Somente em 1906, por meio de outro concurso, venceu a poesia de Joaquim Osório Duque Estrada, dada ao público em 1909. Por meio de um decreto do presidente Epitácio Pessoa, em 1922, foi oficializado o nosso hino, desde então.
Na Copa do Mundo de Futebol, em 20 de junho de 2002, um dia antes do jogo entre o Brasil e a Inglaterra, o jornal inglês “The Guardian” publicou um texto que começava assim: “Tente ficar em frente de seu televisor amanhã. Para sentir outra das grandes dádivas do BRASIL (escrito com letras maiúsculas, o grifo é meu) pela felicidade humana. A França indo embora, o BRASIL agora possui o melhor hino da Copa”.
Mais adiante, o mesmo texto afirma: “O Hino Nacional é elegantemente o mais alegre, o mais animado, o mais melodioso e o mais encantador hino nacional do planeta”.
Enquanto a “Marselhesa” faz belicosos apelos às armas, lembra o “The Guardian”, o hino brasileiro estimula os sentimentos nacionais. Apela para “o formoso céu risonho e límpido” do Brasil. Exalta o “som do mar” e a “luz do céu profundo” e arremata “um conjunto natural para o belo jogo”.
Na semana passada, Maitê Proença (atriz e escritora), Mônica Waldvogel (jornalista), Márcia Tiburi (filósofa) e Beth Lago (atriz e ex-modelo) comentavam o Hino Nacional do Brasil na TV.
Entre outras, elas diziam que a palavra “lábaro” poderia ser substituída por “bandeira”. Criticavam que o hino era difícil e tentavam (as quatro juntas) lembrar trechos do poema, sem êxito porém.
Quer dizer, entre quatro pessoas, aparentemente esclarecidas, nenhuma delas conhecia a letra inteira do hino, sequer estrofes completas? Qual é a ideia?
Quando era garoto, no tempo de colégio ainda, ninguém entrava em sala de aula sem cantar o Hino Nacional, diariamente. Por isso todos conheciam a letra, era natural.
Depois que os militares tomaram o poder, instituíram o milagre brasileiro, e slogans do tipo “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Criou-se um “imaginário” coletivo de que o tal “amor à pátria” tinha muito de imposição e pouco de verdade, trabalhava-se o estereótipo e não a essência.
Ao associar os símbolos da pátria com a estratocracia e desprezando essa, por sua vez, ficou fácil estender tal antipatia para ambos.
Os tempos mudaram, a energia é outra. Penso nos Estados Unidos, nos filmes. Quando a cena requer ousadia, coragem, o que distingue os homens em ação? Sempre há uma bandeira americana por perto. O espectador associa as coisas, ação com pátria, é inconsciente e mortal.
Antes que esqueça, os dois versos entre aspas do hino são do poema “Canção do Exílio”, do Gonçalves Dias, e não é demais lembrar. “Nossos bosques têm mais vida. Nossa vida mais amores.”
Não precisamos de um estrangeiro para nos lembrar disso porque melhor do que recitar um grande poema é vivê-lo!
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