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Religião e política, à mesa lá em casa, sempre foram assuntos proibidos. Sabia-se de antemão que ninguém chegaria a lugar nenhum, evitava-se assim a insalubridade das diferenças sendo confrontadas de corpo presente.
Continuo com a prática em minha própria vida. Tem situações, ditas de “foro íntimo” que ninguém tem o direito de “meter o bedelho”. O que não impede, naturalmente, de me divertir um pouco com algumas concepções manifestadas por alguns contemporâneos.
A tarde já ia a meio, estou no café lendo a “Ilustrada” da Folha, uma matéria sobre os Beatles, um dos meus vínculos com o passado (remember as 48 biografias deles lá na minha biblioteca) quando ouço na mesa ao lado, bem animada, alguém “requentando” um assunto que já esteve nas primeiras páginas algum tempo atrás, dizia: “sabem, uma das coisas que sempre me impressionou quando era criança, foi aquela história do “limbo”, não conseguia imaginar aquilo, o cara, sem ter cometido pecado nenhum, era condenado àquela coisa, ficava lá, toda a vida, nem para frente e nem para trás, aquela ideia de eternidade, de vazio, de dormência, nunca entendi... Agora, outro dia, o Papa Bento XVI aboliu o tal limbo... Assim, de uma canetada, acabou com uma dúvida que carregava comigo da noite para o dia”...
Ouço algumas gargalhadas... Não sei como o tal assunto começou, mas presto atenção porque no fundo, também tinha aquele sentimento, aliás, eu mesmo poderia ter dito aquilo que o sujeito acabara de dizer.
Viajei um pouco no tempo, quando tinha seis ou sete anos e me preparava para a primeira comunhão. O Colégio “Bom Pastor”, em Chapecó, e a irmã Lucrécia dava as últimas instruções para a turma em uma espécie de sabatina, com direito a perguntas e respostas, era para sanar as dúvidas todas. Cada aluno apontava o dedo, levantava e perguntava. Bueno pensei também vou perguntar, era só para mostrar interesse pela matéria, afinal, naquele tempo a gente sempre fazia o que “eles” ou “elas” pediam, sem questionar muito, ainda mais em se tratando de religião. Aí, imbuído daquela coragem insana dos leigos, digo para a irmã (tudo bem pensado e ensaiado antes, em pensamentos) “se para tomar a comunhão precisamos estar em jejum, então depois de receber a hóstia, devemos continuar em jejum”... A sala toda veio abaixo de riso, a irmã me deitou os dois olhos piedosos e dissimulou um riso observando a irmã Gilda, a diretora que acabara de entrar, e deu a sua explicação... Depois o Renato Breda me deu dois tapinhas nas costas e afirmou que a pergunta tinha sido boa, a irmã que não entendera direito. Nada como ter um bom amigo, na verdade eu queria perguntar se o tempo de jejum antes deveria ser observado depois, quer dizer, o mesmo tempo, enfim...
Aí foi a minha vez de abrir um sorriso, só eu entendi, naturalmente.
A conversa na mesa ao lado ia mais animada do que aquela minha recordação passageira.
O sujeito que falara sobre o limbo deveria ser um humorista, era muito espirituoso com o que parecia uma impertinência da Santa Sé, argumentava com desenvoltura: “ora, vejam bem, se o Papa pode liquidar com o limbo numa canetada, lembro na época que o argumento foi simples, afirmaram que era uma “visão excessivamente restrita da salvação” e concluíram como Deus é piedoso ele iria “querer que todos os seres humanos sejam salvos”, o Papa também poderia dar uma mexida geral, começando com aquela história do “pecado original”, pô! O cara já nasce com uma dívida com os senhores lá do paraíso... Risos... E isso sem contar aquela outra história do “purgatório” que deve ser uma espécie de condenação com juros e correção por nossas falhas espirituais, tais é louco”, concluiu enquanto a turma caia na gargalhada...
Sem humor não vai, por isso não discuto!
Sérgo Rubim, meu caro, salve?!
ResponderExcluirA ilustração está duca... Já me sinto guri novamente com aquele temor de abrir a porta e me deparar com seres assustadores de outro mundo me apontando os dedos descarnados e gritando que serei o próximo...
Abração do viking!