domingo, 6 de junho de 2010

Cartas Baianas

Por Emanuel Medeiros Vieira

HIROSHIMA

Na manhã dominical,

a bomba de Hiroshima,

a bomba,

tão clara,

exata,

cirúrgica.


Bomba geométrica,

certeira.


A bomba vem do céu,

mas não é ave.


A bomba vem de cima,

mas não é Deus.


Desce fumegante,

a bomba não negocia,

a bomba não conversa,

célere, impositiva,

acerta o alvo, cai,

a bomba queima, a bomba dissolve,

a bomba dilacera.


Alguém nasce no ano em que ela cai,

e pensa naquele 1945:

a surpresa daqueles milhares de olhos,

à espera do lúdico no matinal domingo,

parques, igrejas, passeios, visitas familiares,

percebendo – sem tempo para a reflexão –

a chegada da não-ave,

emissária de Tanatos,

que cai, cai,

na paisagem limpa (cogumelos atômicos).

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