Por Olsen Jr.
No último verão, depois de quatro anos “padecendo” com a canícula, tomei a decisão de chamar um técnico para “dar uma olhada” no ar condicionado. Ele chegou, indiquei o aparelho e fui cuidar da minha vida. Menos de 10 minutos depois ele me chama e diz que não há nada de errado com o aparelho. Contesto e afirmo que há quatro anos tento fazer o “desgraçado” funcionar... Com ar professoral, sem parecer afetado, ele explica “as palhetas estavam fechadas, quando ligado, o ar batia e voltava, desarmando o sistema, o aparelho funcionava sem eficácia”... Simples e objetivo, mas ele ainda acrescentou “poderia levar o equipamento para a oficina, ficar com ele lá durante dez dias, e dizer que era um problema grave, cobrar um terço do que ele vale, e ainda assim seria lucro para o usuário, mas não sou desses profissionais, faço bem o meu trabalho”...
Quanto custa?
Ele me cobrou a visita (quase o mesmo de uma corrida de táxi e um “plus” relativo ao que se chama know-how, quer dizer, o seu conhecimento (estudo mais a prática) e concordei sem questionar (depois de pronto seria um cretino se o fizesse) porque como profissional também valorizo os profissionais de outras áreas.
O encanador, o eletricista, o pedreiro (quando você encontra um), todos cobram, porque o indivíduo tem de sair de sua casa, deslocar-se, constatar um problema, avaliá-lo e fazer um diagnóstico, isso tem um custo. Só não vê quem não quer. Nunca questionamos uma consulta médica, odontológica, óptica... Porque trata da saúde, isso é sagrado, em termos.
Na década de 1970 e 1980 quando bebia com o escritor João Antônio, cansei de ouvir sua prédica irada nos botecos que frequentávamos em Blumenau e Rio de Janeiro, dizia “você escreve um livro, o cara que faz a capa ganha, o revisor ganha, o ilustrador ganha, depois de pronto o distribuidor ganha (a maior fatia, 50% sobre o preço de capa) e então, pôrra! Só o escritor que não ganha, justamente quem escreve o livro, isso tem de acabar”...
Fui prestigiar o amigo, escritor Mário Prata num batepapo com estudantes na UFSC, lá pelas tantas ele comentou “você pega uma bula de remédio, um manual de um aparelho eletrônico, com todo o respeito, aquilo é feito por técnicos para técnicos, não entendo absolutamente nada, então por que não se contrata um escritor para fazer essa ponte entre o consumidor? Não seria lógico, tornar a informação acessível para o leigo com uma linguagem fluente? Acrescenta...
Ano passado escrevi a apresentação de um restaurante para um cardápio. Depois de entrevistar várias pessoas, conversar com antigos clientes fiz um contraponto do que foi e do que se tornou: começo, meio e fim. Literariamente falando, um miniconto. Até o garçom mais avesso à leitura, apreciou o texto, porque estava leve e agradável, coisa rara no setor. Well, puseram o nome do meu pai como autor e não recebi sequer um agradecimento em troca. Uma maravilha o modus operandi dos íncolas.
Conhecido escritor amigo (pediu para não citar o nome) foi sondado através de seu irmão, por um clube de serviço para fazer uma palestra sobre “Criação em artes”... O interpelado, foi prático, disse para a pessoa que o consultava, que o irmão era uma pessoa bem acessível e que ele daria o telefone e então eles poderiam combinar o tema e o cachê... Quando falou em custo, o outro estrilou “como, o teu irmão vai cobrar?”, “pô! O cara está virando um mercenário”, “não sabia que ele iria cobrar”... A palestra nunca aconteceu, pelo óbvio, tem gente que vive disso.
Tudo na vida tem um preço. Ignoro o que se deva pagar em determinadas circunstâncias, talvez dependa dessas mesmas circunstâncias, enfim, seríamos mais fortes se houvesse mais gente tentando fazer da literatura um ofício e não um mero passatempo, porque o preço dessa subserviência é a eterna insignificância!
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