domingo, 25 de abril de 2010

LIÇÃO CIDADÃ


Por Edison da Silva Jardim Filho

O meu pai, tabelião em Florianópolis, Edison da Silva Jardim- o Dedé-, prematuramente falecido, era um homem honesto, inteligente, competente, bondoso, humilde. Vocês podem pensar que essa é uma impressão de todo filho em relação ao pai. Mas, não. Aqui, é tudo verdade! Homem de hábitos simples, era respeitado por ricos e pobres, poderosos e gente comum como nós. Lembro-me que, quando eu o acompanhava pelas ruas, a cada instante ele era parado por alguém para conversar ou para aconselhar-se sobre matéria do seu ofício público. Até hoje, passados 34 anos de sua morte, de vez em quando ainda tem alguém que me rememora alguma dessas qualidades. Entre os maiores amigos do meu pai, estavam os desembargadores Arno Pedro Hoeschl, Eugênio Trompowsky Taulois Filho, Euclydes de Cerqueira Cintra- todos ocuparam a presidência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina-, e Waldir Trompowsky Taulois. Os desembargadores Eugênio e Waldir eram irmãos. Todos eles frequentavam a nossa casa na rua general Bittencourt nº 587, centro, onde, hoje, está instalada a sede da Associação dos Municípios da Grande Florianópolis, apreciadores que eram da feijoada, do cozido e do feijão a tropeiro, feitos e servidos, aos sábados, pela minha mãe, Maria Evangelina da Silva Jardim, a Nena. Mulher preparada, estudou no reputado colégio Sacré-Coeur de Marie e se formou em assistente social no Rio de Janeiro; mas ia para a cozinha para agradar ao marido, sabedora da grande alegria que ele sentia com aquelas reuniões. O desembargador Euclydes Cintra era também nosso vizinho na praia de Sambaqui. Quase toda a semana, eu via e cumprimentava, às vezes conversava, com um ou mais deles. Se não era lá em casa, era nos finais de tarde, no cartório. Guardo na lembrança as imagens respeitáveis das esposas dos desembargadores Eugênio e Cintra- era assim que eu os chamava-, respectivamente, a “dona Geni” e a “dona Anita”. O filho do desembargador Waldir, o Waldirzinho, funcionário da CODESC- faleceu moço ainda-, era meu amigo; fomos colegas no curso de Direito, na UFSC. O filho do desembargador Eugênio, o Geninho, funcionário do IPESC (IPREV), sempre que a gente se encontra, sem falarmos, vem à mente de cada um o rosto do pai do outro, e aquela melhor fase de nossas vidas. Eu nunca mais encontrei o filho do desembargador Arno Hoeschl, do qual, depois de tanto tempo, esqueci-me o nome, mas não de sua alegria contagiante. Os filhos do desembargador Cintra: o Luiz Alberto e o Doca, por serem mais velhos, não se relacionavam comigo, mas, toda vez que os encontro em algum lugar, da mesma forma como ocorre com o Geninho, lembro-me, imediatamente, do pai deles.

Os desembargadores Arno Hoeschl, Eugênio Trompowsky, Euclides Cintra e Waldir Taulois- eu fecho os olhos e vejo na minha frente a placidez dos seus rostos, falas, gestos e atitudes-, antes de “passearem”- tal a naturalidade- a sua condição de magistrados de segundo grau em Santa Catarina, eram seres humanos que faziam jus ao qualificativo.

Todo o histórico dos velhos laços de amizade entre as famílias é para afirmar, sem qualquer titubeio, que nenhum dos nominados desembargadores e, vou mais longe ainda, nenhum dos desembargadores que compunham os plenários do TJ/SC daqueles idos, seria capaz de protagonizar o episódio ocorrido na última quinta-feira, dia 15 de abril, por volta das 22:00 horas, na avenida Luiz Boiteux Piazza, Cachoeira do Bom Jesus, em Florianópolis, entre a desembargadora Rejane Andersen e um soldado da Polícia Militar, que, apenas e tão somente, cumpria o seu dever institucional (todos os detalhes podem ser lidos e ouvidos nos blogs: “tijoladas do mosquito”, que deu o furo de notícia, e “cangablog”). A desembargadora (transtornada): “- O senhor sabe quem eu sou?”/O soldado: “- Não.”/A desembargadora: “- Não sabe?”/O soldado: “- Não sei.”/A desembargadora: “- Desembargadora do Tribunal de Justiça!”/O soldado (dando-lhe uma memorável lição de cidadania): “- Que bom, então. A senhora deveria dar um exemplo melhor!”

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