Há notas explicativas de entidades associativas que são verdadeiras plataformas e confissões de alma, de práticas e projetos de vida, de modus operandi, de interesses já não mais inconfessáveis, se não da maior parte dos seus membros, pelo menos das pessoas que formam os seus órgãos diretivos.
Agora, foi a vez da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis- Acif, por intermédio do seu presidente, Doreni Caramori Júnior, cuja nota publicada tinha o escopo de revelar a sua posição sobre a construção e operação, em Biguaçu, do estaleiro da empresa OSX, pertencente ao homem que tem cifrões no lugar dos olhos, Eike Batista.
A Acif, nessa questão do estaleiro, age da mesma forma como o Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis- Sinduscon, através do seu presidente, Hélio César Bairros, agiu por ocasião da denominada: “Operação Moeda Verde”. Lembram-se ainda dela?... Ricos e poderosos políticos, empresários e agentes públicos estavam nas duas pontas da corrupção envolvendo licenças ambientais para empreendimentos estabelecidos em Florianópolis.
A nota da Acif tem os dois fatores principais da conversa-fiada das entidades associativas dos empresários e da classe política brasileiras, quando se encontram às voltas com a defesa de empreendimentos que suscitam a aplicação da legislação que dispõe sobre a preservação do meio ambiente: o sofisma da “geração de emprego e renda e de desenvolvimento econômico da nossa região”- no caso, a Grande Florianópolis-, e as agressões gratuitas e injustas lançadas na direção dos ambientalistas e das ONG’s que não estão disponíveis no grande “mercado persa” tupiniquim, que “cria dificuldades para vender facilidades”, bem ao gosto dos médios e grandes empresários e dos políticos.
“O empreendimento de R$ 2,5 bilhões trará benefícios econômicos para toda a região, gerando milhares de empregos (5 mil postos diretos)”. Ninguém nasceu ontem para não saber que, nesse tipo de empreendimento, o pessoal técnico virá de fora, e os peões igualmente, porque, com a sua avidez por trabalho, o preço dessa mão-de-obra ficará muito mais barato do que com o aproveitamento dos nativos e residentes. Abstraindo os danos ambientais irreversíveis já suficientemente enfocados, alevantam-se as não menos importantes facetas social e infraestrutural do problema. Há menção de que a população de Biguaçu poderá vir a quase dobrar... Os prefeitos dos municípios da região da Grande Florianópolis e os governadores do Estado nunca se preocuparam com os brutais déficits em saneamento básico e de moradias populares dignas em bons locais, em suma, com o planejamento e organização das nossas cidades. E, de mais a mais, urge eu perguntar: quem deu legitimidade para a Acif conjecturar que a maior parte da população da região da Grande Florianópolis deseja o progresso ao custo do sacrifício de suas belezas naturais e da falência do poder público? Essa indagação nunca foi, clara e seriamente, objeto das discussões que costumam ser feitas somente nos períodos eleitorais.
“ONG’s que não representam coisa alguma além do interesse de seus ‘donos’, os pequenos grupos contrários ao empreendimento contam uma história cheia de som e fúria.” “Grupelhos dedicados à algazarra”. Peço vênia aos meus eventuais leitores para, daqui, prestar uma homenagem ao meu irmão, empresário e ambientalista, Geraldo Luiz da Silva Jardim. Ele mantém intacta uma área razoavelmente grande de floresta, no município de Rancho Queimado, da qual retira as ervas medicinais que vende. Foi também devido a sua luta, que as multinacionais Bunge e Yara não conseguiram instalar, recentemente, uma fábrica de fertilizantes no bucólico município de Anitápolis. Tal qual o meu irmão, inúmeros outros defensores do meio ambiente florianopolitano e catarinense, agem, sincera e desprendidamente, fora e dentro dos órgãos públicos encarregados dos licenciamentos ambientais.
Se prevalecesse somente a vontade de entidades associativas como a Acif e o Sinduscon, e dos políticos, há muito tempo não teríamos razões para enaltecer, para quem não conhece, as belezas naturais da região da Grande Florianópolis e de Santa Catarina.
Eduardo Espíndola deixou um novo comentário sobre a sua postagem "O REI SEMPRE ESTEVE NU": O artigo é mortífero de bem escrito! Eu não sabia que aí em Floripa a coisa era igualzinha como aqui no Rio de Janeiro...
Eduardo Espíndola
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