quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

BRASÍLIA REVISITADA

Por Emanuel Medeiros Vieira
Para Clarice e Lucas, meus filhos que aqui nasceram
    Não, não quero falar da cidade estigmatizada, dos poderes – podres ou não..
Não a urbe oficial, dos altos tecnocratas, dos políticos que só conhecem o aeroporto, carros oficiais, palácios, ministérios, o Congresso,  restaurantes chiques, e boates de “moças de luxo”- caras, da mais antiga profissão..
     A cidade que amo é outra,
    Das chuvas de janeiro (que agora pararam) de tantas mangas, dos verdes belos, das goiabas crescendo, da Clarice, do Lucas, dos piqueniques improvisados, do Parque da Cidade, e de tanta gente honrada que aqui labuta e corre atrás dos seus sonhos.
Mudar essa imagem eu sei que não vou.
    Mas creio que o meu papel é o de “evangelizador laico”.
    Se mudar uma só visão, um só olhar estereotipado, ficaria  compensado.

    EIS-ME DE VOLTA, PROVISORIAMENTE, DA PRIMEIRA PARA A ÚLTIMA CAPITAL.
     Não, os poderes já não me interessam.
    CADA MOMENTO É UM LUGAR ONDE NUNCA ESTIVEMOS.
    E tento redescobrir cada momento.
    O que é o tempo,?, me pergunto sempre – desde que iniciei no ofício de tecer palavras. Virgílio captou  magistralmente: “Sede fugit interea , fugit irreparabile tempus” (“mas ele foge: irreparavelmente  o tempo).
    E Clarice Lispector pergunta: “Oh Deus que faço desta/felicidade ao meu redor/que é eterna, eterna,eterna/e que passará daqui a um instante/porque só nos ensina/a ser mortal?”
    Mas o que queria dizer?
    Que há uma cidade escondida, além do olhar apressado.
     Há uma cidade mais funda – das linhas retas.
    Algo que ficará, além das celebridades vãs, da vida de gente que se atribui muita importância  – ministros e deputados que logo serão esquecidos.
    Quem se lembra de Médici? Quem se esquecerá do Dr. Oscar e de Lúcio Costa?
    É por essa razão que dedico o curto texto ao Lucas e a Clarice.
    Não são “candangos”, pioneiros.
    Ele vai fazer 9 anos, ela 26.
    Mas há algo de novo nos seus olhares.
    E enquanto escuto um pássaro cantando, o sol batendo na mesa em que escrevo, não consigo evitar o lugar-comum: vale a vida.  Algo do nosso trabalho ficará – ficará. E sei que toda a glória é finita, que é sempre assim (apenas passamos). E o tempo foge.
(Brasília, janeiro de 2012)

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